16 de agosto de 2011

"M*rdas que o meu pai diz"


Há já algum tempo que não tinha o prazer de ler um livro, na sexta-feira ao procurar um que me interessasse, acabei por comprar dois. O primeiro foi uma escolha mais ou menos óbvia, “Quarto livro de crónicas” de António Lobo Antunes. Desde que li o “Primeiro livro de crónicas” e posteriormente “Os cús de Judas” que me tornei num grande admirador do referido autor. Para mim o senhor António Lobo Antunes é daquelas pessoas que considero ser um génio e que me deixa algo fascinado. Aprecio nele não só aquela personagem meio bicho-do-mato, com o seu mundo próprio, desencaixado da sociedade, mas também a forma como escreve que denota o resultado de um trabalho árduo e extenuante imprimindo no papel palavras todas escolhidas e alinhadas propositadamente naquele lugar específico. Nos seus livros não há vocábulos aparecidos ao acaso.
Já com as crónicas debaixo do braço, lá continuei pela livraria a espreitar o que havia, mais por curiosidade do que com o interesse de gastar mais dinheiro. Enquanto mirava as prateleiras dei de caras com a segunda compra, cujo título sugestivo me chamou a atenção, “ M*rdas que o meu pai diz” do desconhecido Justin Halpern. Lá peguei nele e folhei três ou quatro páginas, lendo duas ou três passagens, fechei-o e procurei o código de barras para ver se ainda encaixava no orçamento. Não ficava barata a festa, trazendo os dois, mas lá vieram comigo.
Como fiquei bastante curioso e o livro é bastante bem-humorado comecei logo a ler as ditas merdas que aquele pai dissera e que o filho registara. Ao contrário do que preconceituosamente pensei, o tal pai – Sam Halpern – não é um indivíduo sem instrução, mas um médico de medicina nuclear que dedicou a vida a trabalhar na investigação da cura para o cancro.
O que mais gostei no livro, para além de ser hilariante do princípio ao fim, foi a forma pragmática como eram transmitidos os valores ao filho, com exemplos muitas vezes completamente disparatados, mas com conteúdo, com alguma rispidez mas sempre com o intuito de tornar o filho uma pessoa responsável, preparada para lidar com o mundo.
Ao ler algumas das “barbaridades” ditas por Sam Halpern, fiquei com alguma “inveja” da sua transparência, frontalidade e capacidade de se abstrair daquilo que os outros pensam dele. O homem está-se completamente nas tintas para as opiniões daqueles que não conhece de lado nenhum e às vezes até para as daqueles que conhece. É preciso coragem! 

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