19 de agosto de 2011

Bento XVI, O Radical

Não gosto do Papa Bento XVI. Tenho a certeza que ele também não gosta de mim, embora não saiba porquê, enquanto eu sei porque não gosto dele. Não tenho a mínima dúvida que ele seja mais inteligente, fale mais línguas, leia mais, seja mais culto, pratique melhores acções, diga mais verdades e seja globalmente melhor pessoa do que eu, no entanto isso não me obriga a gostar dele, e tenho toda a legitimidade para isso.
Se o senhor Joseph Ratzinger, com todas as suas qualidades e defeitos, fosse funcionário de um banco, caixa num supermercado, vendesse revistas num quiosque ou outra coisa qualquer, a minha simpatia por ele seria certamente outra, pois o homem até nem deve fazer mal a uma mosca, o problema é que ele é Papa.
Hoje quando ia almoçar ouvi na rádio umas declarações do sumo pontífice que me fizeram aumentar ainda mais a embirração com ele. Segundo o Papa Bento XVI, "Frente ao relativismo e a mediocridade, surge a necessidade da radicalidade. A radicalidade evangélica é estar em Cristo, firmes na fé".
Em meu entender, alguém que é o representante máximo da religião a que pertenço, não se pode permitir a declarações que apelem à radicalidade, aliás “radical” é o melhor exemplo de uma palavra que não deve ser associada à religião. Devido às suas responsabilidades, deve obrigatoriamente ser mais contido nas palavras, para não correr o risco de inflamar e alimentar fanatismos.
Numa altura que anda meio Madrid à batatada em manifestações a favor e contra a Igreja e seus representantes, também em consequência de algumas intolerâncias religiosas, falar em “radicalidade” é “deitar achas para a fogueira”.
Quando os ministros religiosos se queixam da crise de fé que atravessamos e da ausência de fiéis nas cerimónias religiosas, deveriam olhar para dentro e perceber que porventura tais factos se devem a muitos actos desenvolvidos por si, que envergonham e contradizem os valores advogados pela Igreja.

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