24 de janeiro de 2012

Excesso de ruído


Nos últimos dias não se tem falado de outra coisa a não ser das declarações manifestamente infelizes do Presidente da República Cavaco Silva. Não há certamente a mínima dúvida que perdeu um grande momento de silêncio, não sendo surpresa para ninguém que o senhor tenha pouco jeito para a palavra. Daí a criar uma petição para pedir a sua demissão foi um saltinho, atitude essa que considero ser um mero folclore que provoca excesso de ruído.
Assumo desde já que votei no dito senhor em ambas eleições para a presidência da república e que votaria novamente caso fosse sujeito a eleição neste momento, o que não que dizer que concorde com tudo o que faz ou diz. Preferia votar neste Cavaco Silva a votar no Globetrotter Mário Soares ou no verbo-de-encher Jorge Sampaio. Em minha opinião, Cavaco Silva é um homem com sentido de estado e da posição que ocupa, não se esquivando a ter opinião ou tomar decisões mesmo que daí possa sair “chamuscado”, já que em grande parte das vezes é melhor uma má decisão a decisão nenhuma. Ganha muito dinheiro? Ganha, mas das reformas para as quais descontou, não recebendo o ordenado de presidente da república, que seria de 6523€ e não de 45000€ mais reformas, caso chefiasse a EDP.
O presidente da república tem sido, por estes dias, apontado por muitos dedos de pessoas que estarão em circunstâncias idênticas, a embolsar balúrdios à conta do estado, com a traseira abancada na assembleia e a auferir de uma reforma choruda ou com direito a ela num futuro muito próximo, por “servir” o país em dois ou três mandatos como deputado. Seria também de bom-tom abdicarem de alguns dos seus luxos em nome da austeridade nacional.
Em nome do equilíbrio das contas do país porque não aprovarem, nessa assembleia, tectos para as reformas, limitar os valores mensais a um valor não absurdo, por exemplo 1500€, que se situa muito acima do ordenado mínimo nacional (o triplo), suficiente para um cidadão sobreviver dignamente. É certo que seria menos justo para quem descontou maiores somas ao longo da sua vida de trabalho, mas não será mais injusto o afogo actual?
Quanto à família Cavaco Silva ser muito poupada, segundo o próprio, acho que só lhes fica bem, no entanto, muitas outras famílias também o seriam se conseguissem ganhar ordenados mais altos ou ter despesas mais baixas. Quando se ouvem os sermões dos governantes na televisão até dá a sensação que os portugueses são uma cambada de preguiçosos e bêbados malandros que gastam o ordenado em minis e tremoços. Não são esses mesmos governantes que nos colocaram nesta posição por não conseguirem gerir o nosso dinheiro?

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