Nos últimos dias não
se tem falado de outra coisa a não ser das declarações manifestamente infelizes
do Presidente da República Cavaco Silva. Não há certamente a mínima dúvida que
perdeu um grande momento de silêncio, não sendo surpresa para ninguém que o senhor
tenha pouco jeito para a palavra. Daí a criar uma petição para pedir a sua
demissão foi um saltinho, atitude essa que considero ser um mero folclore que
provoca excesso de ruído.
Assumo desde já que
votei no dito senhor em ambas eleições para a presidência da república e que
votaria novamente caso fosse sujeito a eleição neste momento, o que não que
dizer que concorde com tudo o que faz ou diz. Preferia votar neste Cavaco Silva
a votar no Globetrotter Mário Soares ou no verbo-de-encher Jorge Sampaio. Em
minha opinião, Cavaco Silva é um homem com sentido de estado e da posição que
ocupa, não se esquivando a ter opinião ou tomar decisões mesmo que daí possa
sair “chamuscado”, já que em grande parte das vezes é melhor uma má decisão a
decisão nenhuma. Ganha muito dinheiro? Ganha, mas das reformas para as quais
descontou, não recebendo o ordenado de presidente da república, que seria de
6523€ e não de 45000€ mais reformas, caso chefiasse a EDP.
O presidente da
república tem sido, por estes dias, apontado por muitos dedos de pessoas que
estarão em circunstâncias idênticas, a embolsar balúrdios à conta do estado,
com a traseira abancada na assembleia e a auferir de uma reforma choruda ou com
direito a ela num futuro muito próximo, por “servir” o país em dois ou três
mandatos como deputado. Seria também de bom-tom abdicarem de alguns dos seus
luxos em nome da austeridade nacional.
Em nome do equilíbrio
das contas do país porque não aprovarem, nessa assembleia, tectos para as
reformas, limitar os valores mensais a um valor não absurdo, por exemplo 1500€,
que se situa muito acima do ordenado mínimo nacional (o triplo), suficiente
para um cidadão sobreviver dignamente. É certo que seria menos justo para quem
descontou maiores somas ao longo da sua vida de trabalho, mas não será mais
injusto o afogo actual?
Quanto à família
Cavaco Silva ser muito poupada, segundo o próprio, acho que só lhes fica bem,
no entanto, muitas outras famílias também o seriam se conseguissem ganhar
ordenados mais altos ou ter despesas mais baixas. Quando se ouvem os sermões
dos governantes na televisão até dá a sensação que os portugueses são uma
cambada de preguiçosos e bêbados malandros que gastam o ordenado em minis e
tremoços. Não são esses mesmos governantes que nos colocaram nesta posição por
não conseguirem gerir o nosso dinheiro?
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