Andre Kosters/Lusa |
Se a memória não me
atraiçoa, a primeira vez que vi a Senhora Eunice Muñoz representar foi numa das
transmissões que a RTP fazia de peças de teatro à sexta-feira à noite, tinha eu
6 ou 7 anos. A peça em questão intitulava-se “Mãe Coragem e seus filhos” de
Bertolt Brecht e a Senhora Eunice era naturalmente a protagonista Anna Fierling,
a Mãe Coragem.
Naquela altura, pela
idade que tinha, penso não ter percebido grande parte do que se passava ali
naquela história, onde uma senhora de cabelo grisalho com uma touca na cabeça e
uma saia comprida, falava com grande carga dramática, transmitindo-me o
sofrimento que a perda dos seus filhos lhe impunha, sendo impossível ficar-lhe
indiferente.
No início do ano
passado tive o privilégio de assistir ao vivo a uma peça interpretada pela
Senhora Eunice Muñoz. A peça é um monólogo intitulado “O ano do pensamento
mágico” de Joan Didon, que relata na primeira pessoa a história verídica do seu
drama familiar, motivado pela perda do marido e da filha. Durante mais de uma
hora a Senhora Eunice Muñoz interpretou aquele texto com uma carga emocional pesadíssima,
de forma absolutamente arrebatadora. Outra coisa não seria de esperar pelo seu
talento inquestionável apesar dos seus mais de oitenta anos.
Ontem o seu
septuagésimo aniversário de carreira foi celebrado com uma condecoração por parte
do Presidente da República. Foi-lhe atribuída a Grã-Cruz da Ordem do Infante D.
Henrique, ordem honorífica portuguesa que pretende distinguir as figuras da
cultura que levaram bem alto o nome de Portugal. Sinto-me extremamente
satisfeito por ser reconhecida a importância de uma figura ímpar da cultura
portuguesa como a Senhora Eunice Muñoz, principalmente ainda em vida.
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