A minha avó Cristina
completaria hoje 93 anos se ainda estivesse fisicamente connosco, no entanto, a
natureza segue o seu curso e apenas a sua memória se mantém bem viva.
A vida não foi meiga
para a minha avó, restando-lhe lutar para suplantar as adversidades, enquanto fazia aquilo que melhor sabia, ser bondosa. Perdeu os pais cedo no espaço de dois meses,
tomou conta do irmão paraplégico mais de cinquenta anos, viu partir um sobrinho
que vivia em sua casa e tratava como se fosse seu filho, num acidente brutal
que ceifou mais quatro colegas todos de São Jorge, abalando-a e vestindo-a de
luto até aos seus últimos dias.
A avó que eu recordo
constantemente, era o exemplo da generosidade, era afável, discreta, de uma
enorme simplicidade e sempre com um sorriso simpático e genuíno. As suas acções
eram sempre no sentido de praticar o bem e de fazer com que os outros se
sentissem o melhor possível. Deixou-nos este valiosíssimo ensinamento como
herança.
Adorava sentar-me ao
lado dela e deitar a cabeça no seu colo, de sentir aquele aconchego e carinho. Ocasionalmente,
dava-me uns trocos para uma guloseima, coisa que lhe deliciava tanto o coração
como a mim o estômago.
Para a minha avó
sempre fui o “menino” e não havia nada que ela não fizesse, dentro das suas
possibilidades, para ver o “menino” feliz.
Hoje este “menino”
pensou muito na avó Cristina e na forma como ela lhe passava a mão primeiro na
cabeça e depois no queixo, quando a visitava no lar nos seus últimos dias, como
que a confirmar se estava tudo bem, tentando transmitir simultaneamente a
segurança que o seu instinto protector obrigava.
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