18 de novembro de 2011

Avó Cristina


A minha avó Cristina completaria hoje 93 anos se ainda estivesse fisicamente connosco, no entanto, a natureza segue o seu curso e apenas a sua memória se mantém bem viva.
A vida não foi meiga para a minha avó, restando-lhe lutar para suplantar as adversidades, enquanto fazia aquilo que melhor sabia, ser bondosa. Perdeu os pais cedo no espaço de dois meses, tomou conta do irmão paraplégico mais de cinquenta anos, viu partir um sobrinho que vivia em sua casa e tratava como se fosse seu filho, num acidente brutal que ceifou mais quatro colegas todos de São Jorge, abalando-a e vestindo-a de luto até aos seus últimos dias.
A avó que eu recordo constantemente, era o exemplo da generosidade, era afável, discreta, de uma enorme simplicidade e sempre com um sorriso simpático e genuíno. As suas acções eram sempre no sentido de praticar o bem e de fazer com que os outros se sentissem o melhor possível. Deixou-nos este valiosíssimo ensinamento como herança.
Adorava sentar-me ao lado dela e deitar a cabeça no seu colo, de sentir aquele aconchego e carinho. Ocasionalmente, dava-me uns trocos para uma guloseima, coisa que lhe deliciava tanto o coração como a mim o estômago.
Para a minha avó sempre fui o “menino” e não havia nada que ela não fizesse, dentro das suas possibilidades, para ver o “menino” feliz.
Hoje este “menino” pensou muito na avó Cristina e na forma como ela lhe passava a mão primeiro na cabeça e depois no queixo, quando a visitava no lar nos seus últimos dias, como que a confirmar se estava tudo bem, tentando transmitir simultaneamente a segurança que o seu instinto protector obrigava.

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