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Hoje ao almoço a minha esposa fez cous-cous, já pré-temperado com a harrissa, molho tradicional norte-africano. Conforme a massa foi sendo cozida foi libertando aquele cheirinho delicioso dos temperos que me transportaram para aqueles mercados árabes onde paira sempre no ar aquela miscelânea de aromas.
Subitamente senti uma certa saudade e vontade de voltar a estar naqueles ambientes, onde já estive por três ocasiões e de onde trouxe magníficas memórias, acentuadas pelo choque cultural que existe com a nossa realidade europeia.
Em 1997 fui pela primeira vez a Marrocos e mesmo tendo sido assaltado na Medina de Casablanca, onde me roubaram o relógio, fiquei completamente fã do país. A medina é um "mundo comercial" dentro da cidade cheio das cores das especiarias alinhadas no mercado, de malas, cintos, carteiras e afins em peles coloridas, de bijuteria expostas naquelas bancas em ruelas estreitas e movimentas. O povo contrariamente ao que eu esperava, é muito amistoso e prestável, contudo não perdem uma oportunidade de nos sacar mais uns trocos naqueles negócios regateados, em que pensamos que compramos por uma autêntica pechincha, e na realidade pagámos o dobro ou o triplo do real valor.
É impossível não reparar em pequenos hábitos para nós tão peculiares, os cafés com os clientes todos virados para a estrada, a água vendida ao copo no meio da rua, tal como os cigarros à unidade, a anarquia nas estradas com os polícias em cima do traço contínuo, os comerciantes das lojas que nos tocam incessantemente para que entremos na loja deles que tem o produto especial, único e a bom preço, que só se encontra mesmo ali e... em todas as outras lojas ao lado. Para eles, como somos portugueses temos sempre direito a uma atençãozinha, somos o país do Figo, Eusébio e Cristiano Ronaldo e um país pobre como eles logo somos irmãos, tal como devem ser os espanhóis e os outros todos.
Mais tarde, em 2003, fui à Tunísia e as diferenças eram poucas. Em 2009 voltei a Marrocos e já achei que o país tinha evoluído, até na mentalidade, se calhar também pela mudança de liderança, contudo a parte cultural inata está lá. Nem toda a gente gostará de se sujeitar aquela confusão onde estamos constantemente a ser importunados pelos vendedores. É preciso ir para lá mentalizado que se vai para uma realidade diferente, como diz o ditado "Em Roma sê romano".
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