29 de novembro de 2011

Eunice Muñoz


Andre Kosters/Lusa

Se a memória não me atraiçoa, a primeira vez que vi a Senhora Eunice Muñoz representar foi numa das transmissões que a RTP fazia de peças de teatro à sexta-feira à noite, tinha eu 6 ou 7 anos. A peça em questão intitulava-se “Mãe Coragem e seus filhos” de Bertolt Brecht e a Senhora Eunice era naturalmente a protagonista Anna Fierling, a Mãe Coragem.  
Naquela altura, pela idade que tinha, penso não ter percebido grande parte do que se passava ali naquela história, onde uma senhora de cabelo grisalho com uma touca na cabeça e uma saia comprida, falava com grande carga dramática, transmitindo-me o sofrimento que a perda dos seus filhos lhe impunha, sendo impossível ficar-lhe indiferente.
No início do ano passado tive o privilégio de assistir ao vivo a uma peça interpretada pela Senhora Eunice Muñoz. A peça é um monólogo intitulado “O ano do pensamento mágico” de Joan Didon, que relata na primeira pessoa a história verídica do seu drama familiar, motivado pela perda do marido e da filha. Durante mais de uma hora a Senhora Eunice Muñoz interpretou aquele texto com uma carga emocional pesadíssima, de forma absolutamente arrebatadora. Outra coisa não seria de esperar pelo seu talento inquestionável apesar dos seus mais de oitenta anos.
Ontem o seu septuagésimo aniversário de carreira foi celebrado com uma condecoração por parte do Presidente da República. Foi-lhe atribuída a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, ordem honorífica portuguesa que pretende distinguir as figuras da cultura que levaram bem alto o nome de Portugal. Sinto-me extremamente satisfeito por ser reconhecida a importância de uma figura ímpar da cultura portuguesa como a Senhora Eunice Muñoz, principalmente ainda em vida.

28 de novembro de 2011

Património da Humanidade


No passado dia 11 de Julho escrevi aqui como me sentia orgulhoso por ver o fado ser proposto a património mundial da UNESCO, pois bem, ontem vimos finalmente confirmada essa decisão. Penso que o reconhecimento da importância cultural do fado é um grande motivo de satisfação para os portugueses, mesmo para aqueles que não simpatizam com o género musical.
Na realidade, a referida deliberação pouco mais serve que para espalhar a nossa cultura e alimentar o nosso ego, não se traduz para a maioria de nós numa mais-valia financeira, contudo é importante sentirmos que temos algo é verdadeiramente valorizado pelos outros (e por nós) e que graças também a essa canção do povo somos reconhecidos em todo o mundo.
Cabe-nos a nós estimá-lo e levá-lo ainda mais longe, fazer dessa canção da “World Music” um símbolo maior do nosso país, para que brevemente vejamos um dos nossos receber um Grammy.
Deixo aqui dois dos meus fados preferidos, mesmo que a televisão nos tenha bombardeado nos últimos dias com tanto fado, estes valem sempre a pena ser recordados.
 João Villaret - "Fado Falado"

Amália Rodrigues - "Barco Negro"

27 de novembro de 2011

Banco alimentar

Hoje ao chegar a um hipermercado aqui perto de casa deparei-me com três rapazes com catorze ou quinze anitos distribuir sacos para a recolha de alimentos para o banco alimentar. Deram-me o saco que eu agarrei um bocado por instinto, sem sequer me aperceber que tinha o logótipo da dita instituição.
Normalmente não tenho o hábito de oferecer donativos quando encontro pessoas a pedir na rua ou quando cá vêm bater à porta de casa, por desconfiar bastante desses peditórios e por nesta altura aparecerem mais rapidamente que os cogumelos. Se fosse a dar sempre que me é solicitado tinha eu próprio de organizar um peditório para pagar as contas cá de casa.
No caso do banco alimentar a coisa é um bocado diferente, tenho a instituição como credível e acho que têm um papel muito importante, ainda para mais nas circunstâncias actuais.
O que eu dei para a causa não foi muito, foi dado de boa vontade e espero que seja útil a alguém que esteja necessitado e não a um bêbado preguiçoso, pois infelizmente são eles que levam a que os verdadeiramente necessitados recebam menos do que poderiam receber.
Quanto àquela rapaziada ainda adolescente à entrada de saco na mão, gostei de os ver por lá, sabendo que provavelmente abdicaram voluntariamente de uma tarde de Domingo a jogar jogos de vídeo para fazer uma boa acção.
Os meus pais sempre me ensinaram que devemos ajudar quem precisa pois pode haver uma altura em que seremos nós a precisar de uma mão amiga. Acho que este ensinamento é muito valioso e espero conseguir transmiti-lo também à minha filha. 

25 de novembro de 2011

A Jaula


http://www.record.xl.pt

Amanhã é dia de dérbi. Não, não estou a falar do jogo Nacional vs Marítimo. Estou mesmo a falar do Benfica vs Sporting, o dérbi dos dérbis. Como não podia deixar de ser, até porque é da praxe, lá vem mais uma polemicazinha. Quando não há casos, inventam-se.
Desta vez o motivo da confusão é “A Jaula”, sistema que o Benfica sujeitou à aprovação por parte da Liga e viu confirmada a autorização para a colocação no seu próprio estádio. Este sistema consiste numa rede colocada em torno dos adeptos da equipa visitante, com o intuito de prevenir a passagem de objectos arremessados quer de um lado quer de outro, prevenindo a ocorrência de danos pessoais. Este sistema já é utilizado noutros estádios de outros países, caso do Giuseppe Meazza, do Inter e Milan, no Allianz Arena do Bayern de Munique ou Camp Nou do Barcelona, não sendo uma ideia pioneira do Glorioso.
A direcção do Sporting ficou extremamente ofendida pela utilização desta caixa de protecção, recusando-se a participar nas actividades de confraternização habituais entre as duas equipas, que ocorrem antes do jogo, abdicando também os seus membros dos lugares da tribuna a que têm direito, preferindo ver o jogo ao lado das claques na bancada.
Hoje um dos jornais desportivos referia numa notícia que os ditos membros iriam ser sujeitos a revista à entrada no estádio. Sinceramente, não percebo porque é que isto é notícia, não é normal os espectadores da bancada serem revistados à entrada do estádio? Eu tenho o meu cadastro limpo e sempre que entrei num estádio fui revistado, deveria haver regimes de excepção para alguém? Parece-me que não.
A única vez que assisti a um Benfica vs Sporting no estádio, foi ainda no antigo estádio da Luz, a grandiosa Catedral! No final do jogo os adeptos do Benfica brindaram a claque sportinguista com uma torrencial chuva de cadeiras. Não sei quantos adeptos sportinguistas tiveram de receber assistência médica por via da absurda e condenável atitude, mas se à época houvesse uma protecção como a que agora vai ser implementada, os danos humanos seriam insignificantes ou mesmo inexistentes.

24 de novembro de 2011

Exame teórico

Hoje foi dia de fazer o exame teórico da carta de moto, levantei-me confiante mas também desconfiado. Confiante por ter feito garantidamente mais de 100 testes o que é sinónimo, na minha opinião, de poder estar de consciência tranquila e ter a noção de me sentir preparado. Desconfiado por nesses testes online e do CD fornecido pela escola, haver algumas respostas incorrectas por serem elaborados pelas editoras e não pelo IMTT, que não presta sequer qualquer esclarecimento a quem o solicite. Essa desconfiança estava também associada à possibilidade de poder cair numa qualquer armadilha ou má interpretação do português das questões, algumas delas apresentadas a meu ver, de forma desonesta.
Há pessoas que chumbam nos exames de código não por desconhecerem a matéria, mas por as questões lá colocadas serem dúbias ou susceptíveis de múltiplas interpretações em função da argumentação, à qual não se tem direito por ser um "teste de cruzinhas".
Quanto ao meu exame, correu bem e acabei por passar sem falhas. As questões sorteadas não eram ambíguas o que facilitou o desempenho.
Portanto, venho por este meio avisar que a partir de agora já posso começar a ter aulas práticas, quer então dizer, que vou poder andar à solta na estrada montado em duas rodas. Como a minha experiência nesses brinquedos é nula quero aconselhar a todos, que passem a andar com muito mais atenção no alcatrão, sob pena de me poderem encontrar de penico enfiado na cabeça e sem rodinhas de lado, o que é manifestamente arriscado para quem se atravessar no caminho. Depois não digam que eu não avisei!

21 de novembro de 2011

A19

Ontem acompanhado da minha bela família, esposa e filha, saí de casa para ir almoçar a casa dos meus pais em São Jorge. Ao chegar ao Alto Vieiro, descontraído à espera de um desvio que me encaminhasse para uma qualquer via alternativa por causa das obras na nova A19 e IC 2, nem sequer prestei qualquer atenção às placas de sinalização. Andei, andei e continuei a andar, senão quando dou por mim e "Ups, enganei-me! Querem ver que a auto-estrada já está aberta?!", e não é que estava mesmo!
A primeira reacção foi a, "Lá vou eu ter de pagar portagem". A seguir "Pelo menos experimentamos a nova auto-estrada e chegamos mais depressa". E paguei mesmo, aliás, hei-de pagar e contrariamente ao que estava à espera, não me chega a conta a casa, tenho de ser eu a ir aos CTT ou a uma Payshop largar o carcanhol. 
A primeira impressão em relação à nova via, é a de ser uma boa alternativa, que encurta um bocadito o tempo de viagem, mesmo sendo apenas um percurso de 14 km. Será especialmente útil em situações que se pretenda estar a tempo e horas contornando o empandeiramento do transito na nacional. Noutras situações quotidianas é pouco provável a sua utilização. Pagar 1,15€ por 14 km de autoestrada é no mínimo absurdo! Portanto ou muito me engano ou haverão muitas pessoas a circular na auto-estrada mas, por curiosidade, falta de sinalização e por não se aperceberem que existem uns pórticos pouco visíveis, que levará os menos atentos a confiar que o percurso é feito à borlix. 


19 de novembro de 2011

Tintin

"As aventuras de Tintin - O segredo do Licorne"
Um dos filmes que ultimamente mais interesse me despertou foi "As aventuras de Tintin - O segredo do Licorne". Em conversa com um amigo meu fiquei a saber que ele tinha ido ver o filme no dia anterior e que o filme lhe tinha agradado bastante. A minha curiosidade ficou ainda mais aguçada.
Esta semana reunidas as condições fui então ver o filme na versão original em 3D. A primeira surpresa ocorreu logo na bilheteira, 8€ por bilhete! Não admira que só estivessemos 12 pessoas na sala de cinema.
Para alguém que usa óculos ver filmes em 3D torna-se um bocado sofrido, pois temos de usar 4 lentes apoiadas no mesmo nariz, o que acaba por ser incómodo. Mas para tentar aproveitar ao máximo a experiência, fez-se o esforço. A versão original implica legendas, o que rouba a atenção a alguns dos pormenores que se vão passando na tela, portanto sem conhecer a versão portuguesa penso que é preferível optar por esta, até porque dos filmes de animação que vi dobrados na nossa língua, me causaram sempre muito boa impressão pela qualidade dos actores.
O filme em si está, na minha opinião, soberbo! A qualidade das imagens, os planos pouco óbvios e muito bem executados chegam a fazer parecer que se trata de um filme com "pessoas reais" com um fato de desenho animado. Os movimentos dos bonecos são muito naturais e fluidos, a história está muito bem retratada e é bastante dinâmica. As personagens são fiéis às da criação original, o Tintin bastante perspicaz, a Milú muito inteligente e o Haddock um grande bêbado.
O efeito 3D está bem executado e a sensação de sentir as imagens aproximarem-se de nós é frequente. Quem gostar de filmes animados, das aventuras do Tintin e tiver 8€ para gastar, deve ir ver o filme pois certamente não sairá de lá defraudado.

18 de novembro de 2011

Avó Cristina


A minha avó Cristina completaria hoje 93 anos se ainda estivesse fisicamente connosco, no entanto, a natureza segue o seu curso e apenas a sua memória se mantém bem viva.
A vida não foi meiga para a minha avó, restando-lhe lutar para suplantar as adversidades, enquanto fazia aquilo que melhor sabia, ser bondosa. Perdeu os pais cedo no espaço de dois meses, tomou conta do irmão paraplégico mais de cinquenta anos, viu partir um sobrinho que vivia em sua casa e tratava como se fosse seu filho, num acidente brutal que ceifou mais quatro colegas todos de São Jorge, abalando-a e vestindo-a de luto até aos seus últimos dias.
A avó que eu recordo constantemente, era o exemplo da generosidade, era afável, discreta, de uma enorme simplicidade e sempre com um sorriso simpático e genuíno. As suas acções eram sempre no sentido de praticar o bem e de fazer com que os outros se sentissem o melhor possível. Deixou-nos este valiosíssimo ensinamento como herança.
Adorava sentar-me ao lado dela e deitar a cabeça no seu colo, de sentir aquele aconchego e carinho. Ocasionalmente, dava-me uns trocos para uma guloseima, coisa que lhe deliciava tanto o coração como a mim o estômago.
Para a minha avó sempre fui o “menino” e não havia nada que ela não fizesse, dentro das suas possibilidades, para ver o “menino” feliz.
Hoje este “menino” pensou muito na avó Cristina e na forma como ela lhe passava a mão primeiro na cabeça e depois no queixo, quando a visitava no lar nos seus últimos dias, como que a confirmar se estava tudo bem, tentando transmitir simultaneamente a segurança que o seu instinto protector obrigava.

17 de novembro de 2011

Gente Bonita


A cada vez que ouço dizer “gente bonita” as minhas entranhas contorcem-se todinhas com a irritação que a expressão me provoca. Tudo o que é festa de “famosos” tem apenas e só… “gente bonita”, portanto parto do princípio que à entrada dos locais dos ditos eventos esteja afixado um aviso, ao lado do sinal de proibida a entrada a animais, a dizer “Não é permitida a entrada a trambolhos e camafeus”.
No entanto nem sempre o aviso é eficaz, em boa verdade e contrariamente ao que é divulgado existe por lá muita gentinha cuja aparência é bem pior que a de um camião estampado. Alguns até devem mesmo ter saído da recauchutagem há bem pouco tempo, sendo a sua beleza, verdadeiramente sua por serem os próprios pagá-la. Entre inchados e esticados o que interessa é haver snobismo em abundância, muita futilidade e falsidade, a aparentar um mundo que se diz cor-de-rosa.
Para além da censura a pessoas feias, as festas do “Jet 7” possuem outro conceito subvertido comparativamente com a lógica da sociedade. Alguns dos seus membros são pagos para marcar presença nesses locais, quando na realidade deveriam ser eles a pagar para serem aturados.
Com o passar do tempo e num mundo tão dinâmico, penso estar na hora do conceito “gente bonita” sofrer uma actualização bem mais enquadrada com a realidade a que é aplicada, proponho que se passem a chamar “gente postiça”.

16 de novembro de 2011

Avô Luís


O meu avô Luís, pai da minha mãe, celebraria hoje o seu 95º aniversário. Era dois anos e dois dias mais velho que a minha avó Cristina, sua esposa.
O meu avô era um homem com um ar sereno, quase imperturbável, com uma voz suave e amistosa, cujas feições eram vagamente semelhantes às do Almirante Gago Coutinho, o que me fazia teimar em dizer que a imagem na nota 20$00 era a fotografia do avô. Quando eu era pequeno chamava-me ternamente “Russico” por eu ter o cabelo claro.
Como a grande maioria das pessoas da sua época, viveu grandes dificuldades para sustentar e criar os cinco filhos, fazendo das tripas coração para que não passassem fome. Teve uma vida dura, tendo chegado a trabalhar nas minas de carvão e mais tarde numa cerâmica a 5 km de sua casa, cujo trajecto fazia diariamente a pé. Saía de casa ainda de noite acompanhado pelo seu candeeiro a petróleo palmilhando as estradas e os caminhos que o voltavam a ver novamente à noite no regresso.
Sinto-me um afortunado por ter tido o privilégio de conviver diariamente com ele até aos meus 15 anos, altura em que ele partiu. Tenho tantas saudades de o ver sentado virado sobre o braço do sofá a jogar comigo às cartas, à bisca de 3, que ele próprio me ensinou a jogar, deixando-me ganhar quase sempre só para me ver feliz. Sinto também a falta do seu carinho, manifestado discretamente pela sua personalidade introvertida, e daqueles rebuçados de mentol ou do Dr. Bayard, que dados por si tinham sempre um sabor especial.
Admiro para além de tantas coisa a sua capacidade de sofrimento, os seus últimos três anos de vida passou-os acamado, após ter-lhe sido amputada uma perna, praticamente imóvel mas com as suas capacidades mentais intactas. Não me lembro de ouvir a sua voz calma protestar ou queixar-se das infelicidades ou doenças de que padecia. Era um resistente e era um Homem bom.

15 de novembro de 2011

6-2

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Surpreendentemente lá ganhámos aos Bósnios por 6-2. Digo surpreendentemente não pela vitória mas pelo resultado, pois penso que nem a mente mais imaginativa suporia tal resultado, não que a selecção Bósnia fosse extraordináriamente forte, que não é, embora toda a gente andasse para aí "Cuidado com eles!!", quase a tentar justificar uma possível derrota, mas por ser um resultado manifestamente exagerado, ao fim e ao cabo, também não são assim tão fracos. É uma selecção que tem três bons jogadores, Dzeko, Pjanic e Misimovic os outros são meros carregadores de piano. 
Quanto a Portugal tem na minha opinião, a selecção nacional mais fraca dos últimos 20 anos mesmo com Ronaldo, Nani e Coentrão, portanto é bom que mantenhamos os pézinhos bem assentes no chão e muita humildade. Não somos candidatos a nada, somos apenas mais uma selecção a participar na fase final do europeu e apenas com muito juizinho e trabalho poderemos aspirar a mais qualquer coisita. Até lá, que acabem as broncas e os casos, pois já vai sendo hora de cada um deixar de olhar exclusivamente para o seu umbigo, pondo os seus interesses à frente dos da selecção. 

14 de novembro de 2011

Não estou

Na passada sexta-feira com a pressa de chegar à aula teórica da carta de condução, estacionei o carro e saí em passada rápida, depois de conferir a manobra um bocado atabalhoada e se o bólide estava fechado. Desci a escadaria, continuei rua fora e quando chego à escola de condução, meto a mão ao bolso para ver as horas no telemóvel e ... nada! Um rápido exercício de memória, uma asneirola e fez-se luz, esqueci-me do raio do brinquedo no carro.
O mais provável era nem sequer receber uma única chamada naquela hora, mas o que é certo é que me senti um bocado "desorientado" como se me faltasse alguma coisa essencial.
O primeiro telemóvel que tive foi-me oferecido pelos meus pais no Natal de 1999. Até essa data era qualquer coisa que não me fazia a mínima falta, ainda para mais, falar ao telefone era uma coisa que não me agradava, aliás ainda é actualmente uma experiência um bocado desconfortável para mim. Mandar mensagens escritas era sempre pela medida mínima, pois se falar ao telefone já é impessoal, escrever a converseta ainda pior, já para não falar em deixar mensagens de vós, que era completamente mentira.
No entanto com os anos o tal "instrumento" foi-se afeiçoando a mim e eu a ele, a ponto de neste momento, graças aos pontos amealhados, já ser proprietário de um magnífico smartphone, essa sim uma aquisição extraordinária.
Ao mesmo tempo esta dependência assusta-me um bocado, pois parece que começamos a ficar reféns de brinquedos que há meia-dúzia de anos atrás não existiam ou não faziam parte das nossas necessidades diárias. Sou naturalmente a fazer do desenvolvimento tecnológico, das coisas boas e benefícios que trazem à nossa vida quotidiana, contudo a excessiva dependência desequilibra-nos e isso pode ser perigoso, pois qualquer dia seremos uma cambada de patetas agarrados a uma vida virtual.

12 de novembro de 2011

Magreb

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Hoje ao almoço a minha esposa fez cous-cous, já pré-temperado com a harrissa, molho tradicional norte-africano. Conforme a massa foi sendo cozida foi libertando aquele cheirinho delicioso dos temperos que me transportaram para aqueles mercados árabes onde paira sempre no ar aquela miscelânea de aromas. 
Subitamente senti uma certa saudade e vontade de voltar a estar naqueles ambientes, onde já estive por três ocasiões e de onde trouxe magníficas memórias, acentuadas pelo choque cultural que existe com a nossa realidade europeia. 
Em 1997 fui pela primeira vez a Marrocos e mesmo tendo sido assaltado na Medina de Casablanca, onde me roubaram o relógio, fiquei completamente fã do país. A medina é um "mundo comercial" dentro da cidade cheio das cores das especiarias alinhadas no mercado, de malas, cintos, carteiras e afins em peles coloridas, de bijuteria expostas naquelas bancas em ruelas estreitas e movimentas. O povo contrariamente ao que eu esperava, é muito amistoso e prestável, contudo não perdem uma oportunidade de nos sacar mais uns trocos naqueles negócios regateados, em que pensamos que compramos por uma autêntica pechincha, e na realidade pagámos o dobro ou o triplo do real valor.
É impossível não reparar em pequenos hábitos para nós tão peculiares, os cafés com os clientes todos virados para a estrada, a água vendida ao copo no meio da rua, tal como os cigarros à unidade, a anarquia nas estradas com os polícias em cima do traço contínuo, os comerciantes das lojas que nos tocam incessantemente para que entremos na loja deles que tem o produto especial, único e a bom preço, que só se encontra mesmo ali e... em todas as outras lojas ao lado. Para eles, como somos portugueses temos sempre direito a uma atençãozinha, somos o país do Figo, Eusébio e Cristiano Ronaldo e um país pobre como eles logo somos irmãos, tal como devem ser os espanhóis e os outros todos. 
Mais tarde, em 2003, fui à Tunísia e as diferenças eram poucas. Em 2009 voltei a Marrocos e já achei que o país tinha evoluído, até na mentalidade, se calhar também pela mudança de liderança, contudo a parte cultural inata está lá. Nem toda a gente gostará de se sujeitar aquela confusão onde estamos constantemente a ser importunados pelos vendedores. É preciso ir para lá mentalizado que se vai para uma realidade diferente, como diz o ditado "Em Roma sê romano".

11 de novembro de 2011

São Martinho


http://solosfemininos.blogspot.com

Hoje é dia de São Martinho, soldado Romano que num dia de frio outonal rasgou a sua capa com a espada para a partilhar com um mendigo. Manda a tradição que nesta data a malta organize uma castanhada e apanhe uma carroça com água-pé.
Se sem a água-pé até passo bem, já as castanhas, às quais ainda nem a cor vi este ano, confesso que me fazem alguma falta. Nos dias como o de hoje a que me habituei ora a por uma castanha junto às brasas, ora a tirar um cubinho chamuscado às vezes autêntico carvão, acentuam-se as saudades de ter uma lareira. Felizmente que os meus pais e os meus sogros têm esse extraordinário equipamento de companhia e confraternização, em que muitas vezes o calor que fornece é quase um acessório, e assim de vez em quando dá para disfrutar daquele aconchego. Quando chove a companhia da lareira é ainda mais envolvente, pelo bailado tremeluzente da chama ao som do cair da chuva. O aquecimento central é uma invenção brilhante mas não consegue transmitir a serenidade e ambiente da tradicional lareira.

9 de novembro de 2011

Poemas


A poesia nunca foi um género literário que me despertasse particular interesse a ponto de comprar ou simplesmente pegar num livro e lê-lo do princípio ao fim. Não consigo explicar muito bem porquê, não o considero desinteressante ou menor, bem pelo contrário, é necessária alguma agilidade mental para alinhar as rimas de forma consentânea e se calhar outra tanta para perceber as entrelinhas.
Esta conversa surge por ter visto ontem publicado no twitter da revista bula, um título de uma publicação de um jornal brasileiro, Jornal Opção, "Os 10 melhores poemas de todos os tempos". Não estava com grande disponibilidade mental para ler algo que se supõe de grande profundidade, portanto limitei-me a ver os autores e agradou-me ver que constavam nesse “top ten” dois autores lusos, Fernando Pessoa com o poema “Tabacaria” e José Régio com “Cântico Negro”.

Infelizmente não consegui encontrar um vídeo das ditas interpretações feitas pelo provavelmente melhor declamador de poesia que Portugal conheceu, João Villaret, ainda assim vale a pena ouvir, mesmo sem imagem.

"Tabacaria" de Fernando Pessoa por João Villaret
"Cântico negro" de José Régio por João Villaret

8 de novembro de 2011

Todos diferentes, todos iguais


Tem vindo a ser recorrente nos palcos desportivos a manifestação de comportamento racistas quer pela assistência quer pelos intervenientes, e neste último fim-de-semana a situação repetiu-se segundo os jogadores do Braga, Alan e Djamal, que afirmam ter sido alvo de um insulto proferido por Javi Garcia, jogador do Benfica, que os terá chamado de “Preto de merda”. Este último jogador desmente o acto, e eu, nem acredito nem deixo de acreditar, em nenhum dos três. Em minha opinião, após o inquérito deveria haver lugar a castigos pesados, para quem insultou ou para quem levantou o falso testemunho, independentemente do emblema da camisola. Assunto encerrado.
Não sou racista, ponto final. Que fique bem claro. Tive algumas reticências em escrever este texto por sentir que poderia ser alvo de interpretações erradas, dada a delicadeza e a volatilidade do tema, sendo susceptível a deturpação das ideias explanadas. Por esse motivo considerei pertinente afirmar logo na primeira frase do parágrafo a minha posição.
Tenho amigos, colegas e conhecidos brancos, pretos, portugueses, estrangeiros, cristãos, judeus, muçulmanos e ateus e o principal critério que me faz gostar mais ou menos das pessoas com que me cruzo é o seu carácter.
Conheci uma vez um homem a quem chamavam “Chico Preto”, contrariamente ao que se possa pensar gostava de ser tratado dessa forma, aliás era assim que se apelidava quando falava de si próprio. Sinceramente, acho mais normal e adequado chamar preto, do que individuo de raça negra, homem de cor, africano. Todas estas variações me soam a uma certa hipocrisia ou induzem a algum constrangimento. Há africanos brancos e que eu saiba todos somos de cor, à excepção do homem invisível.
Um certo dia o actor Michael Richards, Cosmo Kramer na série Seinfeld, afirmou que tinha orgulho em ser branco e foi de imediato acusado de comportamento racista. Em sua defesa questionou, “Se fosse preto e dissesse sentir o mesmo orgulho pela minha cor de pele, as acusações de racismo seriam mantidas?”. Deixo à consideração de cada um a resposta à pergunta.
O meu intuito com estas linhas não foi branquear ou menosprezar o racismo, acho que de facto é um fenómeno grave, infelizmente presente no dia-a-dia e injusto, no entanto por vezes extrema-se tanto a situação que deixamos de agir com naturalidade com aqueles que são diferentes de nós, temos um comportamento desajustado quase de inferiorização para não nos sujeitarmos a parecermos xenófobos.

7 de novembro de 2011

El Mago

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Um certo dia estava eu no aeroporto de Lisboa à espera que chegasse um familiar que tardava em chegar,  sem nada de útil para fazer e rodeado de gente dos quatro cantos do mundo, lá me estava a entreter conjuntamente com a minha esposa, a observar todas aquelas pessoas das mais diversas origens e aparências em constante movimento.
A determinada altura ao olhar para um canto meio perdido vejo um indivíduo de t-shirt e calções, franzino, baixo, farta cabeleira e barba mal semeada, tentando passar despercebido. O rapaz estava acompanhado pela mulher e dois filhos pequenos de 2 ou 3 anitos com muita vontade de brincar, ao que o pai e mãe os tentavam entreter, mantendo-os perto de si junto a um quiosque fechado. A cena não me despertaria mais atenção do que outra qualquer normalíssima protagonizada por uma qualquer família que estivesse naquele aeroporto, se o dito sujeito não fosse o Magnífico Pablo Aimar!
A primeira frase que ecoou na minha cabeça foi, ".....sse, aquele é o Pablo Aimar!!!!!", repetindo-se incrédulamente mais uma ou duas vezes. Eu estava ao pé de um dos meus futebolistas preferidos de sempre, ainda para mais jogador do meu clube. Deu-me vontade de chegar lá e pregar-lhe um abraço musculado, pedir-lhe um autógrafo e lembrá-lo do jogador excepcional que é, como se ele não tivesse já farto de o saber. Contive-me, para parecer um bocado mais civilizado do que o meu instinto me obrigava e nem sequer lhe pedi o dito autógrafo, pois para além de não ter papel nem caneta, seria uma falta de respeito tirar-lhe a privacidade e discrição que ele se esforçava por manter. 
Lembrei-me desta história por ontem um jornal desportivo noticiar a possibilidade de Pablo Aimar renovar por mais um ano pelo Glorioso. Que bem que esta notícia me soube.
Para mim Pablo Aimar é dos melhores jogadores que alguma vez pisaram os nossos relvados, não fosse a sua condição física estar algo fragilizada por via das lesões que o perseguiram e hoje estaria num colosso europeu com mais recursos financeiros do que o colosso onde ele joga actualmente.
El  Mago, é daqueles jogadores que dá gosto ver jogar, é discreto como fora de campo, tem uns pés mágicos feitos de lã pela subtileza como pega na bola, a protege com o seu pequeno corpo ou a desvia dos adversários sempre sem exageros e a larga mortífera no momento certo, sempre no momento certo. Quando a bola lhe chega aos pés já se sabe de antemão que ela entrou noutra dimensão, entrou no domínio de um pequeno argentino que pensa com a mente de um nórdico e por isso é que ele é tão extraordinário, é um criativo sem excessos, o que lhe confere um equilíbrio futebolístico raro. Não há-de ter sido por acaso que Maradona o viu como seu sucessor. 
Espero que se confirme a sua renovação e que nos continue a deliciar com aquele futebol genial que parece ser jogado de fato e gravata. Grande Pablito!

6 de novembro de 2011

Meia-noite em Paris

Ontem assisti ao filme de Woody Allen, "Meia-noite em Paris". Após ter visto o trailer, a expectativa que tinha do filme não era muito elevada, o que acaba por nem ser mau de todo pois a probabilidade de ter uma desilusão fica substancialmente reduzida. 
A primeira coisa que me agradou no filme foi o cenário, Paris e Versailles, revelado através de uma fotografia extraordinária que faz com que o glamour destes locais seja transmitido na sua plenitude.
O argumento não sendo do género que mais me seduza, interliga o real e a fantasia, não deixou de me agradar. Não acho, contudo que seja uma comédia romântica por as situações efectivamente cómicas serem praticamente inexistentes. Parece-me ser mais um filme ligeiro onde é conveniente saber quem são os escritores e pintores que por lá aparecem, de forma a entender melhor as suas personagens. 
A personagem principal é desempenhada por Owen Wilson (com quem simpatizo) e é semelhante a quase todas as outras desempenhadas por si, ou seja, um gajo atrapalhado e desorientado que é boa pessoa. 
Resumindo, não sendo o melhor filme que já vi, acho que vale a pena vê-lo num serão que se pretende descansado podendo porventura despertar o interesse pelo melhor conhecimento da década de 1920, considerada por Gil Pender (Owen Wilson) a década dourada da cultura.

5 de novembro de 2011

Grécia, Sim ou Não?


Genericamente, sou contra a existência de referendos, pois parto do princípio que em democracia os representantes eleitos têm a legitimidade para tomar as decisões inerentes à sua profissão, visto nós os colocarmos lá com esse propósito. Não deixei, no entanto, de exercer o meu direito ao voto das vezes que me foi solicitado, pois em meu entender é um dever cívico que se sobrepõe à minha opinião.
Ao ouvir nas notícias que os gregos pretendiam realizar um referendo com o intuito de apurar se aceitavam ou não as medidas de austeridade impostas, fiquei um bocado surpreendido. Se eles não têm dinheiro para mandar cantar um cego, ainda se vão por a estoirar mais uns milhões com sondagens à população, cuja decisão deve ser tomada por quem de direito?
De um momento para o outro já a Europa anda toda em sobressalto, devido às especulações em redor do dito referendo. Não foi preciso muito até a pergunta já ser outra, remetendo para a continuidade ou não dos helénicos no Euro. Enfim uma trapalhada que parece não dar em nada, ou pelo menos em nada vantajoso.
Não conheço a Grécia, infelizmente, e a opinião que tenho dos Gregos não abona muito a seu favor desde que nos tiraram a vitória do Euro 2004. Há umas semanas atrás recebi um mail daqueles que alertam para as alarvidades praticadas pelos governantes, cujo objecto era precisamente este país. No dito mail relatavam, por exemplo, que na Grécia existia um lago que secou em 1930, no entanto o estado mantém um instituto em sua protecção. Mais, as filhas solteiras de funcionário públicos têm direito a uma pensão vitalícia de 1000€ mensais, após a morte do progenitor funcionário público, cujo registo inclui 40 mil mulheres. Há 600 profissões em que os trabalhadores podem requerer a reforma aos 50 anos, caso das mulheres e 55 anos, caso dos homens, nessas profissões de enorme desgaste estão apresentadores de TV e músicos.
A ser verdade, confesso fazer-me alguma confusão assistir ao perdão de parte da dívida ao país, mesmo que o problema seja mais profundo, mesmo que estejam a ser sufocados por quem lhe está a dar com uma mão e a tirar com a outra. 

2 de novembro de 2011

Trovante


Foi com algum agrado que soube da realização de 4 concertos dos trovante, a comemorar o 35º aniversário da banda. Não irei a qualquer dos concertos, não por falta de vontade mas por falta de disponibilidade, contudo agrada-me recordar algumas músicas transmitidas na rádio e tv que aludem ao concerto e pulam de imediato para o ouvido provocando um quase imediato trautear.
Dos trovante guardo a boa memória das excelentes músicas que interpretaram, pegando em obras de grandes poetas, como Mário Sá Carneiro ou Florbela Espanca, e utilizando-as como letras imortalizadas pelo adorno musical a que foram sujeitas, dando outra dimensão aos autores tantas vezes esquecidos.
Os trovante foram, na minha opinião, uma daquelas bandas que sempre soube estar e que nos brindou com uma enorme qualidade musical. Foram também muito hábeis a gerir a sua carreira, não se arrastando indefinidamente só porque numa determinada época foram uma banda de referência. Estiveram no activo até ao momento certo para nos deixar aquele gostinho do "Eh pá, que pena que acabaram!" evitando um "Já vão tarde!". 
Agora regressam para quatro concertos depois de no ano passado estarem no Rock in Rio e há uns anos terem acedido a pedido do Ex-Presidente da República, Jorge Sampaio. Nessa altura foi gravado um tema vendido como single, "Timor", cuja receita reverteu a favor do povo maubere. Até essa altura a dita música era uma das minhas preferidas, infelizmente foi passada em tudo quanto mexia até à exaustão e tiraram-lhe aquele gostinho que me dava ouvi-la.
Aqui fica uma bela trova, "Xácara das bruxas dançando" para recordar o que de melhor se fez nos anos 80.

1 de novembro de 2011

Detesto o Halloween


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Na noite passada festejou-se o dia das bruxas, vulgo Halloween. Ai, como eu detesto o Halloween! Esta é uma tradição de origem Irlandesa cuja origem pretende assinalar o fim do Verão e início do ano novo, na noite de 31 de Outubro para 1 de Novembro (não me perguntem porquê, que eu não percebo nada de calendários celtas). O pessoal mascarava-se para afugentar os espíritos dos mortos ocorridos nesse ano, que regressavam e vagueavam nessa noite com o objectivo de tomar o corpo dos vivos. Assim nasceu o Halloween. Não é um costume de origem norte-americana, como se pode pensar, foi levado para lá pelos emigrantes Irlandeses.
Ora onde é que entramos nós? Simples, em lado nenhum. Se essa tradição não é nossa porque temos de a festejar? Nós pedimos o bolinho no dia 1 de Novembro com o fatinho do Domingo e brincamos ao Carnaval sem pedir de porta em porta. As nossas tradições que envolvem pedinchar e máscaras são assim!
Chateia-me como o raio, ver por cá o Halloween! Tal como me chateia ter de aturar uma cambada de palermas a pregar partidas à noite, sobretudo quando já estou a dormir e me acordam. O meu sentido de humor não é assim tão elástico.
Há uma tradição em New Orleans realizada na altura do Carnaval, o Mardi Gras, em que as moças mostram as maminhas em troca de uns colares com contas, já que estamos numa de copiar costumes, porque é que não adoptamos este em alternativa?