5 de março de 2012

Responsabilidades aos responsáveis


“Deus far-me-á justiça”, se a memória não me atraiçoa, é esta a frase que no livro “Conde de Monte Cristo” de Alexandre Dumas se encontra na parede da cela de Edmond Dantès (Conde de Monte Cristo). A nós portugueses esta é mesmo a única esperança que nos resta, ser Deus a fazer-nos justiça porque a da nação chama muito poucos à responsabilidade.
Este desabafo inicial vem na sequência de uma notícia que li hoje, sobre o início do julgamento do ex-primeiro ministro islandês Geir Haarde, acusado de negligência na gestão do país aquando do seu colapso financeiro em 2008. Se for condenado pode incorrer numa pena de prisão até 2 anos.
Ou muito me engano ou no Portugal actual e do passado recente, esta situação seria completamente impossível e isso dana-me! Somos um país de tão brandos costumes que às vezes essa brandura se confunde com irresponsabilidade e cobardia.
Não sei se será falha de memória ou idade insuficiente, mas não me lembro de em Portugal haver um político, um grande empresário ou outra qualquer cara conhecida das televisões e jornais, cumprir pena de prisão efectiva. Pode ter acontecido, mas não me lembro! Há deles que são condenados a multas, coimas, penas suspensas ou um ralhetezito e uma palmada nas costas, mas anos atrás das grades? Isso é para pobres.
Em conversa com um advogado, há já alguns anos, dizia-me ele que o nosso problema não é falta de legislação ou genericamente de legislação adequada à realidade, o que falta é incapacidade de a aplicar. Discordo parcialmente, exactamente por achar a nossa justiça parcial, pelos motivos que referi. A sensação é de o país ser gerido com base em acordos de cavalheiros, que de cavalheiros têm muito pouco.
Na opinião de um mero cidadão sem formação em economia, eu, acho que esta crise não será apenas económica e não se resolverá apenas do ponto de vista económico. Enquanto não forem chamados à responsabilidade os culpados por fugas ao fisco, burlas, desvios, desfalques e outros que tais, apenas andamos a empurrar os problemas para a frente. Roubar 1€ é tão criminoso como roubar um milhão, no entanto parece que por cá é mais grave roubar apenas 1€. Vá-se lá compreender esta lógica!

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