“Deus far-me-á justiça”, se a memória não me atraiçoa, é esta a frase
que no livro “Conde de Monte Cristo” de Alexandre Dumas se encontra na parede
da cela de Edmond Dantès (Conde de Monte Cristo). A nós portugueses esta é mesmo
a única esperança que nos resta, ser Deus a fazer-nos justiça porque a da nação
chama muito poucos à responsabilidade.
Este desabafo inicial vem na sequência de uma notícia que li hoje,
sobre o início do julgamento do ex-primeiro ministro islandês Geir Haarde, acusado
de negligência na gestão do país aquando do seu colapso financeiro em 2008. Se
for condenado pode incorrer numa pena de prisão até 2 anos.
Ou muito me engano ou no Portugal actual e do passado recente, esta
situação seria completamente impossível e isso dana-me! Somos um país de tão
brandos costumes que às vezes essa brandura se confunde com irresponsabilidade
e cobardia.
Não sei se será falha de memória ou idade insuficiente, mas não me
lembro de em Portugal haver um político, um grande empresário ou outra qualquer
cara conhecida das televisões e jornais, cumprir pena de prisão efectiva. Pode
ter acontecido, mas não me lembro! Há deles que são condenados a multas,
coimas, penas suspensas ou um ralhetezito e uma palmada nas costas, mas anos
atrás das grades? Isso é para pobres.
Em conversa com um advogado, há já alguns anos, dizia-me ele que o
nosso problema não é falta de legislação ou genericamente de legislação
adequada à realidade, o que falta é incapacidade de a aplicar. Discordo
parcialmente, exactamente por achar a nossa justiça parcial, pelos motivos que
referi. A sensação é de o país ser gerido com base em acordos de cavalheiros,
que de cavalheiros têm muito pouco.
Na opinião de um mero cidadão sem formação em economia, eu, acho que
esta crise não será apenas económica e não se resolverá apenas do ponto de
vista económico. Enquanto não forem chamados à responsabilidade os culpados por
fugas ao fisco, burlas, desvios, desfalques e outros que tais, apenas andamos
a empurrar os problemas para a frente. Roubar 1€ é tão criminoso como roubar um
milhão, no entanto parece que por cá é mais grave roubar apenas 1€. Vá-se lá
compreender esta lógica!
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