Por vezes dou por mim
a pensar se consigo ir mantendo algum equilíbrio na minha forma de pensar e agir,
bem como nas decisões que tomo no meu quotidiano. Não sei se isso é meramente uma
dúvida existencial, natural ou não, ou se é a paternidade a solicitar essa
resposta, por via de querer transmitir uma educação à minha filha que lhe possibilite
transformar-se numa boa pessoa, não que eu lhe exija ser a melhor em tudo, mas
porque gostava que ela fosse o melhor que as suas capacidades lhe permitirem.
Um dos irmãos de um
dos meus melhores amigos tem uma definição para o "Homem equilibrado" que
considero ser das melhores e mais bem-humoradas que alguma vez ouvi. Segundo
ele, esse equilíbrio é atingido quando o Homem se situa exactamente a meio do
intervalo que vai entre o robot e o palhaço.
A “teoria” não será
naturalmente objecto de estudo a realizar num mestrado ou sujeita a verificação
científica a publicar na revista “Science”, penso eu, contudo considero ser um
óptimo ponto de partida para balizar aquilo que serão dois extremos bem vincados.
Não querendo parecer
que tenho 70 anos, quando olho para trás vejo que nesta teoria já fui muito
mais colado ao robot e com o tempo tenho procurado, não alinhar-me com o
palhaço, mas manter-me o mais próximo do ponto intermédio que consiga. O
equilíbrio não é uma coisa estática, que o digam os gajos do circo que andam no
arame, mas a oscilação tem de ser controlada sob pena de resvalar para a
rigidez ou palermice.
Antes de ser pai,
condição que me assusta ainda diariamente, todas as decisões eram muito mais
fáceis, todos os riscos eram menos graves (mesmo que sempre tenha tentado não
arriscar mais do que achava que conseguia suportar, daí estar mais próximo do
robot) e as consequências seriam essencialmente pessoais. Com o tempo e sem responsabilidades
directas por ninguém, consegui libertar alguma da rigidez do robot e viver de
forma mais descontraída, mais pragmática, sem relógio (mesmo gostando do
acessório e mantendo a pontualidade britânica) e procurando relativizar as
situações atribuindo apenas a importância às coisas que lhes é devida.
A bênção que foi o
nascimento da minha filha, veio ocupar a minha mente com as muitas preocupações
de lhe proporcionar a melhor vida que consiga e uma segurança que se torna cada
vez mais difícil, já para não falar em incutir-lhe os valores e princípios
correctos. Tudo isto veio colocar-me no caminho do robot novamente, com o risco
de ser essa também a mensagem que lhe passo. Talvez fosse esse o motivo que me
fizesse sentir a necessidade de parar um bocado para pensar, pois não quero ser
o “pai dos castigos” ou o “pai dos mimos”, quero ser o “pai dos mimos e dos
castigos” quando cada um tiver de ser chamado à acção e para isso preciso de
ser justo, acho que essa é mesmo a palavra correcta, quero ser justo com a
minha filha e comigo, pois só assim estarei em equilíbrio.
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