Há já algum tempo que não
tinha o prazer de ler um livro, na sexta-feira ao procurar um que me
interessasse, acabei por comprar dois. O primeiro foi uma escolha mais ou menos
óbvia, “Quarto livro de crónicas” de António Lobo Antunes. Desde que li o
“Primeiro livro de crónicas” e posteriormente “Os cús de Judas” que me tornei
num grande admirador do referido autor. Para mim o senhor António Lobo Antunes
é daquelas pessoas que considero ser um génio e que me deixa algo fascinado.
Aprecio nele não só aquela personagem meio bicho-do-mato, com o seu mundo
próprio, desencaixado da sociedade, mas também a forma como escreve que denota o
resultado de um trabalho árduo e extenuante imprimindo no papel palavras todas
escolhidas e alinhadas propositadamente naquele lugar específico. Nos seus
livros não há vocábulos aparecidos ao acaso.
Já com as crónicas debaixo
do braço, lá continuei pela livraria a espreitar o que havia, mais por
curiosidade do que com o interesse de gastar mais dinheiro. Enquanto mirava as
prateleiras dei de caras com a segunda compra, cujo título sugestivo me chamou
a atenção, “ M*rdas que o meu pai diz” do desconhecido Justin Halpern. Lá
peguei nele e folhei três ou quatro páginas, lendo duas ou três passagens, fechei-o
e procurei o código de barras para ver se ainda encaixava no orçamento. Não
ficava barata a festa, trazendo os dois, mas lá vieram comigo.
Como fiquei bastante
curioso e o livro é bastante bem-humorado comecei logo a ler as ditas merdas
que aquele pai dissera e que o filho registara. Ao contrário do que
preconceituosamente pensei, o tal pai – Sam Halpern – não é um indivíduo sem
instrução, mas um médico de medicina nuclear que dedicou a vida a trabalhar na
investigação da cura para o cancro.
O que mais gostei no livro,
para além de ser hilariante do princípio ao fim, foi a forma pragmática como
eram transmitidos os valores ao filho, com exemplos muitas vezes completamente
disparatados, mas com conteúdo, com alguma rispidez mas sempre com o intuito de
tornar o filho uma pessoa responsável, preparada para lidar com o mundo.
Ao ler algumas das
“barbaridades” ditas por Sam Halpern, fiquei com alguma “inveja” da sua
transparência, frontalidade e capacidade de se abstrair daquilo que os outros
pensam dele. O homem está-se completamente nas tintas para as opiniões daqueles
que não conhece de lado nenhum e às vezes até para as daqueles que conhece. É
preciso coragem!
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