Não
gosto do Papa Bento XVI. Tenho a certeza que ele também não gosta de mim,
embora não saiba porquê, enquanto eu sei porque não gosto dele. Não tenho a
mínima dúvida que ele seja mais inteligente, fale mais línguas, leia mais, seja
mais culto, pratique melhores acções, diga mais verdades e seja globalmente
melhor pessoa do que eu, no entanto isso não me obriga a gostar dele, e tenho
toda a legitimidade para isso.
Se o senhor Joseph
Ratzinger, com todas as suas qualidades e defeitos, fosse funcionário de um
banco, caixa num supermercado, vendesse revistas num quiosque ou outra coisa
qualquer, a minha simpatia por ele seria certamente outra, pois o homem até nem
deve fazer mal a uma mosca, o problema é que ele é Papa.
Hoje
quando ia almoçar ouvi na rádio umas declarações do sumo pontífice que me fizeram
aumentar ainda mais a embirração com ele. Segundo o Papa Bento XVI, "Frente ao relativismo e
a mediocridade, surge a necessidade da radicalidade. A radicalidade evangélica
é estar em Cristo, firmes na fé".
Em meu entender, alguém
que é o representante máximo da religião a que pertenço, não se pode permitir a
declarações que apelem à radicalidade, aliás “radical” é o melhor exemplo de
uma palavra que não deve ser associada à religião. Devido às suas
responsabilidades, deve obrigatoriamente ser mais contido nas palavras, para não
correr o risco de inflamar e alimentar fanatismos.
Numa altura que anda
meio Madrid à batatada em manifestações a favor e contra a Igreja e seus
representantes, também em consequência de algumas intolerâncias religiosas,
falar em “radicalidade” é “deitar achas para a fogueira”.
Quando os ministros religiosos se queixam da crise de fé que
atravessamos e da ausência de fiéis nas cerimónias religiosas, deveriam olhar
para dentro e perceber que porventura tais factos se devem a muitos actos
desenvolvidos por si, que envergonham e contradizem os valores advogados pela
Igreja.