23 de novembro de 2012

Revelação natalícia


Há perto de 30 anos o mundo quase desabou, pelo menos, o meu mundo. Eu já desconfiava que as coisas não eram assim tão simples como me diziam e que a dúvida que me causava uma das práticas natalícias não era por acaso. A certa altura os meus pais confirmaram que de facto o Pai Natal não existia e que eu tinha razão, com aquela barriga imponente era impossível ele passar na nossa chaminé. Senti-me como se tivesse levado um murro no estômago.
Com o tempo percebi que isso afinal não era assim tão mau, pois não iria precisar de escrever cartas para pedir presentes, tinha direito a argumentar e a defender os meus motivos para merecer o tal carrinho ou o tal jogo e não precisava de esperar pela meia-noite para abrir os embrulhos que me estavam reservados. Mais, deixou de haver a possibilidade de encontrar um velhinho entalado ou a esgatanhar chaminé acima (tudo isto mantendo a fatiota vermelha imaculada) antes de continuar a sua distribuição de presentes pelos outros meninos que também tinham chaminés em casa, sim porque na minha opinião, os que não possuíam lareira não tinham forma de ser recompensados pelo bom comportamento ao longo do ano.
Não cheguei a ficar com nenhum trauma, cresci e transformei-me num adulto minimamente normal (seja lá isso o que for), mas ontem voltei a levar novo murro no estômago. Pensava eu que o nascimento de Jesus (O Cristo, não o Jorge) era uma situação perfeitamente esclarecida, senão quando num noticiário da hora de almoço, volto a sentir o mundo fugir-me debaixo dos pés ao tomar conhecimento que o Papa Bento XVI revelou no seu último livro que as duas figuras menos contestadas do Presépio, afinal não faziam parte dele. Pois é, o burro e a vaca não estavam junto à manjedoura onde o menino foi deitado e não terá sido o seu bafo a mantê-lo quente.
Não percebo o motivo de só agora, mais de 2000 anos depois, estes dois bichos serem expulsos do presépio, onde em muitas das recriações do momento, à venda em qualquer loja, aparecem com ar simpático e sorridente. Quem nunca viu um burro e uma vaca de loiça de dentuça à mostra junto ao menino Jesus?
Não vejo sequer que risco poderá trazer para a fé católica a presença daqueles dois inocentes animais, e qual a necessidade que o Papa terá em preocupar-se com estas questões laterais quando o mundo e a própria fé andam tão abalados. Enfim, ele lá terá as suas prioridades!
Fico também a aguardar a reacção das associações de defesa dos animais e os resultados dos possíveis inquéritos, com o intuito de aferir a real veracidade da revelação e se houve ou não o recurso à violência física e/ou psicológica.
Deixo também aqui um último pedido, por favor não acabem é com o bolo-rei!

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