18 de julho de 2012

Farinha do mesmo saco


DN

As declarações de D. Januário Torgal Ferreira deixam-me confuso.
D. Januário é um homem vivido, aparenta ser mentalmente são e pertence a uma instituição religiosa vinte e quatro horas por dia, não é clérigo em part-time. D. Januário não pica o cartão findas oito horas de serviço, começando a partir daí a viver uma vida leviana descomprometida com os princípios aos quais jurou fidelidade. No entanto, tem e deve ter toda a liberdade de expressão de qualquer cidadão comum.
Ao proferir declarações dizendo que este governo “é profundamente corrupto” e que alguns dos seus ministros são “diabinhos negros” que transformam ministros do executivo anterior em “anjinhos”, entrou pelo caminho do absurdo. Para chegar à conclusão de que este governo indicia práticas corruptas, penso que não seja preciso tirar nenhum curso de teologia. Alguém com a sua responsabilidade, afirmar tacitamente sem apresentar provas que o governo é “profundamente corrupto” é uma irresponsabilidade, pois uma coisa é ter essa opinião, outra coisa é afirmar inequivocamente a ocorrência dessa prática.
Mas o que eu acho mais despropositado é a distinção entre os governos, actual e anterior, sendo este o diabinho e o anterior o anjinho. Para alguém que faz considerações políticas, é para mim inexplicável o desconhecimento ou branqueamento da governação anterior. Não me consta que D. Januário tenha estado a viver no estrangeiro ou em clausura e sem contacto com país nos últimos 7 ou 8 anos. Penso que é anterior a esse período o início do desempenho das funções de Bispo das Forças Armadas (acho que começou num dos mandatos de António Guterres), mas posso estar enganado, visto não ter acompanhado a sua carreira de perto.
D. Januário não deverá lembrar-se do caso Freeport, da forma como José Sócrates obteve a sua licenciatura, do caso face oculta, só para falar nos mais mediático, ou de quem pediu ajuda ao FMI e por que motivos. Parto do princípio que a discrepância de tratamento nos comentários que faz, seja por falta de memória e não por má-fé de um homem da fé.
E o que me deixa confuso é exactamente esta questão, porque é que uns vão para um saco e os outros para o outro?
Que D. Januário meta o bedelho em tudo e mais alguma coisa, como ele próprio assume ser seu direito, eu não concordo mas aceito. Deve é fazê-lo com maior sensatez pois o exercício da sua vocação a isso obriga.
Fico agora à espera (sentado) que D. Januário Torgal Ferreira venha para a praça pública falar nos podres da sua Igreja, em nome dos injustiçados. Como católico, gostava de saber que a defesa dos desfavorecidos era universal, mesmo que isso implicasse apontar o dedo dentro da própria casa.

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