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As declarações de D. Januário Torgal Ferreira deixam-me
confuso.
D. Januário é um homem vivido, aparenta ser mentalmente
são e pertence a uma instituição religiosa vinte e quatro horas por dia, não é
clérigo em part-time. D. Januário não pica o cartão findas oito horas de
serviço, começando a partir daí a viver uma vida leviana descomprometida com os
princípios aos quais jurou fidelidade. No entanto, tem e deve ter toda a
liberdade de expressão de qualquer cidadão comum.
Ao proferir declarações
dizendo que este governo “é profundamente corrupto” e que alguns dos seus
ministros são “diabinhos negros” que transformam ministros do executivo
anterior em “anjinhos”, entrou pelo caminho do absurdo. Para chegar à conclusão
de que este governo indicia práticas corruptas, penso que não seja preciso
tirar nenhum curso de teologia. Alguém com a sua responsabilidade, afirmar
tacitamente sem apresentar provas que o governo é “profundamente corrupto” é uma
irresponsabilidade, pois uma coisa é ter essa opinião, outra coisa é afirmar
inequivocamente a ocorrência dessa prática.
Mas o que eu acho mais
despropositado é a distinção entre os governos, actual e anterior, sendo este o
diabinho e o anterior o anjinho. Para alguém que faz considerações políticas, é
para mim inexplicável o desconhecimento ou branqueamento da governação
anterior. Não me consta que D. Januário tenha estado a viver no estrangeiro ou
em clausura e sem contacto com país nos últimos 7 ou 8 anos. Penso que é
anterior a esse período o início do desempenho das funções de Bispo das Forças
Armadas (acho que começou num dos mandatos de António Guterres), mas posso
estar enganado, visto não ter acompanhado a sua carreira de perto.
D. Januário não deverá
lembrar-se do caso Freeport, da forma como José Sócrates obteve a sua
licenciatura, do caso face oculta, só para falar nos mais mediático, ou de quem
pediu ajuda ao FMI e por que motivos. Parto do princípio que a discrepância de
tratamento nos comentários que faz, seja por falta de memória e não por má-fé de
um homem da fé.
E o que me deixa
confuso é exactamente esta questão, porque é que uns vão para um saco e os
outros para o outro?
Que D. Januário meta
o bedelho em tudo e mais alguma coisa, como ele próprio assume ser seu direito,
eu não concordo mas aceito. Deve é fazê-lo com maior sensatez pois o exercício
da sua vocação a isso obriga.
Fico agora à espera
(sentado) que D. Januário Torgal Ferreira venha para a praça pública falar nos
podres da sua Igreja, em nome dos injustiçados. Como católico, gostava de saber
que a defesa dos desfavorecidos era universal, mesmo que isso implicasse
apontar o dedo dentro da própria casa.
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