Zeca Afonso - Os Vampiros (ao vivo no Coliseu - 1983)
Há cerca de 25 anos
andava eu na primeira classe. Lembro-me da professora dizer logo no início do
dia 24 de Fevereiro de 1987, “ontem morreu um dos maiores cantores
portugueses”. Eu tinha ouvido no telejornal do dia anterior que tinha morrido
cantor Zeca Afonso, mas não sabia quem era, nem a sua importância na história
recente do país. Não sabia sequer ser ele o autor e intérprete da “Grândola
Vila Morena”.
Com o passar do tempo
fui conhecendo melhor aquele homem, desaparecido prematuramente aos 57 anos.
Uns anos mais tarde foi feita uma colectânea por uma série de bandas nacionais,
em forma de homenagem e algumas das suas músicas começaram a ficar mais
persistentemente na minha memória. Algumas dessas músicas vestiram uma roupagem
bastante diferente da original, no entanto a sua divulgação foi útil para
ajudar a conhecer a obra e despertar a curiosidade pela verdadeira versão.
Um dos primeiros CD’s
que comprei foi precisamente do Zeca Afonso, o “Cantigas de Maio”, tinha eu uns
14 ou 15 anos. Escolhi-o talvez por ter a “música da revolução”, se calhar numa
fase em que eu próprio também andava nas minhas revoluções, à dimensão da
adolescência. Sinceramente fiquei um bocado surpreendido pela música e letras,
não era muito “convencional”, não era música tradicional mas não deixava de o
ser, tinha um perfume qualquer diferente. As letras não eram óbvias, chegando a
ser enigmáticas, no entanto entranhavam-se com muita facilidade, quase sem dar
por isso empolgavam e viciavam.
Vi alguns comentários
e entrevistas de amigos e colegas que o acompanharam em vida, um dos quais
dizia que resumi-lo à música de intervenção era demasiado redutor, por ter
interpretado diversos géneros musicais, nomeadamente o fado de Coimbra. Concordo
em completo com esta ideia, não concordo no entanto com um outro que dizia que
Zeca Afonso tinha tido o azar de nascer num país pequeno para ele. Zeca Afonso
seria o equivalente a um Bob Dylan ou John Lennon. Zeca Afonso e o seu legado assumiram-se
como património cultural português pela interpretação da língua no contexto que
lhe foi contemporâneo, foi importante para a nossa cultura e para o país que
temos hoje com a sua intervenção musical, sem precisar de ser comparado a
ninguém por saber construir a sua própria identidade.
Não haverá outro Bob
Dylan tal como não haverá outro Zeca Afonso.
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