Foto vencedora do World Press Photo 2011 por Samuel Aranda |
Não é novidade que
gosto bastante de fotografia, já o referi várias vezes aqui no blog, mas
ultimamente tenho aumentado o meu interesse pelo trabalho dos fotógrafos de
guerra, sendo precisamente estes os que mais admiro no desempenho desse
trabalho. Não quero com isto dizer que gostava de me tornar num deles, bem pelo
contrário, simplesmente acho que têm uma coragem completamente fora do comum.
Há algum tempo vi um
filme de seu nome “The bang-bang club” que retracta a história de quatro
fotógrafos de guerra, um dos quais o português João Silva, durante o período
mais conturbado dos conflitos na África do Sul no final do Apartheid, altura em
que foi libertado Nelson Mandela.
No filme baseado na
história verídica desses quatro fotógrafos é possível ter a percepção do quão
difícil é ganhar a vida desta forma, vivendo permanentemente no fio da navalha,
tendo simultaneamente a frieza, o discernimento para disparar a máquina e
captar o sofrimento alheio sem interferir. O seu trabalho é que nos permite
conhecer as guerras, a fome, a morte, a injustiça quando nos sentamos no sofá a
ler o jornal.
Hoje ao conhecer o
vencedor do World Press Photo de 2011 atribuído ao fotógrafo Espanhol Samuel
Aranda de 33 anos, com uma fotografia da Primavera Árabe, li alguns comentários
menos simpáticos para estes profissionais e para o tipo de trabalho que
realizam, sendo acusados de apenas difundir a desgraça, não agirem
positivamente e aproveitarem-se da desgraça de terceiros. A minha opinião é
diferente, essencialmente por um motivo, os fotógrafos geram os veículos de
transmissão daquelas circunstâncias, as fotografias. Não faz parte do seu papel
intrometer-se. Muitas vezes as suas fotografias tornam-se no mote para essas
vítimas receberem ajudas externas.
Compreendo contudo, que
por vezes a fronteira entre o respeito pelas vítimas e a necessidade de transmissão
da informação seja muito ténue e se torne complicada a sua distinção, no
entanto, acho que esse limite e triagem devem ser definidos por quem vê.
Em 1993, Kevin Carter,
fotojornalista também ele pertencente ao bang bang club, tirou uma foto que
chocou o mundo e que foi premiada com o prémio Pulitzer no ano seguinte. Nessa
fotografia, uma criança sudanesa aparecia prostrada, enquanto ao fundo um
abutre a vigiava. Kevin Carter foi duramente criticado por não ter agido em
defesa da menina. Em sua defesa argumentou que a menina não havia falecido
nessa ocasião e que se encontrava junto a um acampamento da cruz vermelha, não
estando abandonada à sua sorte. Kevin Carter suicidou-se pouco tempo depois, a
menina faleceu mais tarde vítima de uma infecção e o Sudão recebeu alguns
milhões de dólares em donativos graças a essa foto que ajudaram muitas outras
crianças a livrar-se do mesmo destino. Se o comportamento de Kevin Carter foi o
mais adequado e eticamente correcto, não sei, mas quero acreditar que sim.
Foto vencedora do Prémio Pulitzer de 1994 por Kevin Carter |
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