10 de fevereiro de 2012

Fotojornalistas


Foto vencedora do World Press Photo 2011 por Samuel Aranda

Não é novidade que gosto bastante de fotografia, já o referi várias vezes aqui no blog, mas ultimamente tenho aumentado o meu interesse pelo trabalho dos fotógrafos de guerra, sendo precisamente estes os que mais admiro no desempenho desse trabalho. Não quero com isto dizer que gostava de me tornar num deles, bem pelo contrário, simplesmente acho que têm uma coragem completamente fora do comum.
Há algum tempo vi um filme de seu nome “The bang-bang club” que retracta a história de quatro fotógrafos de guerra, um dos quais o português João Silva, durante o período mais conturbado dos conflitos na África do Sul no final do Apartheid, altura em que foi libertado Nelson Mandela.
No filme baseado na história verídica desses quatro fotógrafos é possível ter a percepção do quão difícil é ganhar a vida desta forma, vivendo permanentemente no fio da navalha, tendo simultaneamente a frieza, o discernimento para disparar a máquina e captar o sofrimento alheio sem interferir. O seu trabalho é que nos permite conhecer as guerras, a fome, a morte, a injustiça quando nos sentamos no sofá a ler o jornal.
Hoje ao conhecer o vencedor do World Press Photo de 2011 atribuído ao fotógrafo Espanhol Samuel Aranda de 33 anos, com uma fotografia da Primavera Árabe, li alguns comentários menos simpáticos para estes profissionais e para o tipo de trabalho que realizam, sendo acusados de apenas difundir a desgraça, não agirem positivamente e aproveitarem-se da desgraça de terceiros. A minha opinião é diferente, essencialmente por um motivo, os fotógrafos geram os veículos de transmissão daquelas circunstâncias, as fotografias. Não faz parte do seu papel intrometer-se. Muitas vezes as suas fotografias tornam-se no mote para essas vítimas receberem ajudas externas.
Compreendo contudo, que por vezes a fronteira entre o respeito pelas vítimas e a necessidade de transmissão da informação seja muito ténue e se torne complicada a sua distinção, no entanto, acho que esse limite e triagem devem ser definidos por quem vê.
Em 1993, Kevin Carter, fotojornalista também ele pertencente ao bang bang club, tirou uma foto que chocou o mundo e que foi premiada com o prémio Pulitzer no ano seguinte. Nessa fotografia, uma criança sudanesa aparecia prostrada, enquanto ao fundo um abutre a vigiava. Kevin Carter foi duramente criticado por não ter agido em defesa da menina. Em sua defesa argumentou que a menina não havia falecido nessa ocasião e que se encontrava junto a um acampamento da cruz vermelha, não estando abandonada à sua sorte. Kevin Carter suicidou-se pouco tempo depois, a menina faleceu mais tarde vítima de uma infecção e o Sudão recebeu alguns milhões de dólares em donativos graças a essa foto que ajudaram muitas outras crianças a livrar-se do mesmo destino. Se o comportamento de Kevin Carter foi o mais adequado e eticamente correcto, não sei, mas quero acreditar que sim.
Foto vencedora do Prémio Pulitzer de 1994 por Kevin Carter

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