29 de fevereiro de 2012

TV+Internet+telefone

Estou surpreendido pelo facto de hoje ser quarta-feira e não me ter batido à porta ninguém da Zon ou da Meo esta semana, é que já vamos a meio da semana! Por exemplo a semana passada passaram cá por casa quatro comissionistas desses operadores.
O serviço que tenho de televisão, telefone e internet é o mesmo há já três anos, não que seja algo de extraordinário ou barato, porque não é, mas é o possível. Não estou a pensar mudar porque nestes casos os operadores que temos disponíveis no mercado, são na minha opinião meramente razoáveis (não mais do que isso) e passam a vida a tentar sacar o máximo de pilim que consigam com promessas de serviços excepcionais, que ao fim ao cabo são mais do mesmo. Quem é que nunca teve problemas (vários) com estes operadores?
Percebo que as circunstâncias aumentem a dificuldade em arranjar emprego e que muitas destas pessoas se têm de sujeitar a este tipo de trabalhos, tendo tanto jeito para os desempenhar como para ser piloto de um caça da força aérea, ou seja, zero. A cada visita tento lembrar-me que se fosse eu naquela posição também gostava de ser respeitado, por isso é que lhes abro a porta.
Os meus pais foram e continuam a ser extraordinários educadores, como não os quero deixar ficar mal tento levar muito em conta os bons conselhos e princípios que me transmitiram. No entanto, ocasionalmente a postura de alguns destes “comerciais” provoca-me uma enorme vontade em mandá-los a um sítio e aconselhá-los rebolarem-se por lá um bocado.
Na passada semana, dois deles tiveram um comportamento que considero normal ao qual correspondi com uma atitude também ela normal e assertiva, já os outros dois assumiram logo uma atitude à “espertalhão”, espécie essa que não gramo nem só um bocadinho. Quando me tocam campainha do prédio à hora de almoço, entram sem responder porque a porta estava aberta, tocam repetidamente à porta de casa até que esta se abra e ainda começam a conversa com palermices, não se pode esperar um aperto de mão e muito menos que se lhe compre o serviço.
Se algum destes indivíduos passar aqui pelo blog, desde já lhe peço que não venha cá a casa porque está a fazer perder tempo a duas pessoas, uma das quais ao próprio. Se vier que não se ponha com merdas pois acho pouca piada a abusos, principalmente da minha paciência.
Confesso que até já sinto a falta das testemunhas de jeová!

27 de fevereiro de 2012

And the winner is...


http://1.bp.blogspot.com

Realizou-se ontem a cerimónia de atribuição dos óscares em Hollywood e o vencedor do galardão para melhor filme foi atribuído a uma obra no mínimo… diferente, “O Artista”, de Michel Hazanavicius, um realizador francês de origem lituana.
A película é rodada a preto e branco e a história, retratada ao jeito do cinema dos anos 20 é inteiramente fiel ao cinema dessa época, ou seja, cinema mudo a preto e branco. Aliás é exactamente esse o seu principal tema, a transição para o cinema falado, ao qual o protagonista resiste assinando assim a sua decadência.
Nos dias que antecederam a cerimónia e já hoje após o conhecimento do vencedor, ouvi e li alguns críticos de cinema manifestar o seu desacordo, por considerar que o filme não era suficientemente interessante para merecer um óscar ou que não seria um filme capaz de ficar na história do cinema.
O meu gosto pessoal indicou-me o contrário, acho que o filme está muito bem conseguido, tem algo de inesperado e pouco óbvio, por utilizar um formato diferente do actual e mesmo assim conseguir ser atractivo. É certo que o argumento não é tão apelativo e envolvente como é o caso de “As serviçais”, mas também me parece lógico que nunca um filme mudo conseguiria transmitir ao espectador a intensidade deste último, por não disporem os actores da força da palavra. Se fica ou não para a história é um aspecto pouco importante, pois certamente em 82 anos de óscares muitos foram os vencedores de quem já ninguém se lembra, outros marcaram o cinema e não ganharam nada.
Considero também justo vencedor do Óscar para melhor actor principal, Jean Dujardin que desempenha a personagem de George Valentin nesse mesmo filme. Representar uma personagem ao estilo de mimo e ser eficaz na mensagem que se transmite denota uma capacidade notável.
Só faltou mesmo o óscar para melhor actor secundário atribuído ao cão de George Valentin. O bicho é extraordinário!

24 de fevereiro de 2012

Proposta de Adopção


Foi hoje votada na Assembleia da República a possibilidade de adopção de crianças por casais homossexuais, resultando num chumbo da proposta, o que a meu ver será meramente uma questão de tempo até essa realidade se inverter.
Quando se colocou a questão da possibilidade de casamento por indivíduos do mesmo sexo, não me senti particularmente interessado na votação. Aceito que seja um direito de todas as pessoas à luz da constituição, parecendo-me natural que queiram estabelecer um vínculo com outra pessoa e usufruir dos mesmos direitos e deveres. Se nessa altura me foi indiferente se os homossexuais se podiam casar ou continuavam a não poder, neste caso a coisa é um bocado diferente e fico satisfeito com a decisão, não por ter algo contra os casais homossexuais mas porque a adopção não lhes diz apenas respeito a eles, mas também à criança.
A minha perspectiva em nada tem a ver com preconceito contra a homossexualidade ou fanatismo religioso, apenas acho que a criança deve ser protegida. Não ponho em causa a capacidade paternal de homossexuais, considero é que a sociedade poderá ser algo cruel para com as crianças, principalmente enquanto forem de tenra idade e tiverem os mecanismos de defesa “pouco treinados”.
Os pais não escolhem os filhos nem os filhos escolhem os pais, mas a natureza tem um curso que a sociedade tratou de “impor” como normal e tudo o que lhe foge aos limites é tendencialmente pouco tolerado, por isso acho preferível agir em protecção das crianças e evitar o risco do seu sofrimento ser maior pela exposição a uma situação não convencional.
A tolerância deve ser praticada não só por quem é contra mas também por quem é a favor da proposta em causa.

23 de fevereiro de 2012

Zeca Afonso


Zeca Afonso - Os Vampiros (ao vivo no Coliseu - 1983)

Há cerca de 25 anos andava eu na primeira classe. Lembro-me da professora dizer logo no início do dia 24 de Fevereiro de 1987, “ontem morreu um dos maiores cantores portugueses”. Eu tinha ouvido no telejornal do dia anterior que tinha morrido cantor Zeca Afonso, mas não sabia quem era, nem a sua importância na história recente do país. Não sabia sequer ser ele o autor e intérprete da “Grândola Vila Morena”.
Com o passar do tempo fui conhecendo melhor aquele homem, desaparecido prematuramente aos 57 anos. Uns anos mais tarde foi feita uma colectânea por uma série de bandas nacionais, em forma de homenagem e algumas das suas músicas começaram a ficar mais persistentemente na minha memória. Algumas dessas músicas vestiram uma roupagem bastante diferente da original, no entanto a sua divulgação foi útil para ajudar a conhecer a obra e despertar a curiosidade pela verdadeira versão.
Um dos primeiros CD’s que comprei foi precisamente do Zeca Afonso, o “Cantigas de Maio”, tinha eu uns 14 ou 15 anos. Escolhi-o talvez por ter a “música da revolução”, se calhar numa fase em que eu próprio também andava nas minhas revoluções, à dimensão da adolescência. Sinceramente fiquei um bocado surpreendido pela música e letras, não era muito “convencional”, não era música tradicional mas não deixava de o ser, tinha um perfume qualquer diferente. As letras não eram óbvias, chegando a ser enigmáticas, no entanto entranhavam-se com muita facilidade, quase sem dar por isso empolgavam e viciavam.
Vi alguns comentários e entrevistas de amigos e colegas que o acompanharam em vida, um dos quais dizia que resumi-lo à música de intervenção era demasiado redutor, por ter interpretado diversos géneros musicais, nomeadamente o fado de Coimbra. Concordo em completo com esta ideia, não concordo no entanto com um outro que dizia que Zeca Afonso tinha tido o azar de nascer num país pequeno para ele. Zeca Afonso seria o equivalente a um Bob Dylan ou John Lennon. Zeca Afonso e o seu legado assumiram-se como património cultural português pela interpretação da língua no contexto que lhe foi contemporâneo, foi importante para a nossa cultura e para o país que temos hoje com a sua intervenção musical, sem precisar de ser comparado a ninguém por saber construir a sua própria identidade.
Não haverá outro Bob Dylan tal como não haverá outro Zeca Afonso.

21 de fevereiro de 2012

C'était un rendez-vous

Em 1976 o realizador francês Claude Lelouch, fez uma curta-metragem que mostrava o caminho para um encontro que ocorria no Sacré Coeur em Paris, à qual chamou “C’était un rendez-vous”.
Nesta curta-metragem o realizador mostra exclusivamente o caminho feito a alta velocidade de carro por entre as ruas de Paris às 5h30 da manhã, passando semáforos vermelhos, traços contínuos e sentidos proibidos.
Lelouch tinha um factor limitativo, o tamanho da película de que dispunha e que não lhe permitia levantar o pé do acelerador sob pena de deixar a gravação incompleta. Segundo o próprio, a imagem do filme seria feita apenas numa única vez, sem paragens, caso a tentativa fosse abortada abdicaria da ideia.
O pequeno filme causou óbvia controvérsia pelo número de infracções, especulando-se quem seria o hábil e transgressor condutor que fazia tais proezas. Claude Lelouch, recusou divulgar essa informação deixando nomes de pilotos conhecidos ser associados ao filme, sempre sem a devida confirmação nem desmentido e só há bem pouco tempo revelou ser ele próprio o protagonista da fita. Numa espécie de making-off, feita em 2006 revelou alguns pormenores da realização, como a necessidade de fazer várias vezes o percurso para saber as suas condicionantes, a utilização de dois carros, um carro com uma suspensão hidropneumática que lhe garantisse uma estabilidade de imagem e posteriormente uma outra para a sobreposição do som de um carro desportivo.
Os Deuses do cinema estavam com ele naquele dia.




19 de fevereiro de 2012

Carnaval



A memória mais antiga que tenho do Carnaval remonta à primeira classe quando um colega disse que ia mascarado de menina, ao que eu respondi:
“- Então és maricas!
- Não sou não, é só a minha máscara de Carnaval! – Replicou ele.
- Se te vestes de menina és maricas, mesmo no Carnaval – Concluí.
A professora ouviu e repreendeu-me dizendo.
- Vê-se mesmo que vives numa aldeia. As pessoas da aldeia é que falam dessa maneira!”
Na altura fiquei um bocado sem saber o que quereria dizer, mas parece-me que me estava a chamar preconceituoso. Ainda não consigo perceber muito bem qual é a obsessão carnavalesca de quase todos os homens se mascararem pelo menos uma vez na vida, senão todos os anos, de mulher, no entanto já não tenho 6 anos e sei que não são maricas, sem ofensa aos que são.
Em boa verdade o Carnaval é daquelas épocas que não me agrada particularmente, ainda para mais, com seu “abrasileiramento” que considero ser completamente despropositado. No Brasil é Verão, portanto é normal que as moçoilas andem todas descascadas... porque faz calor, e isso sim é enquadrado com a realidade deles. Cá fazem 0ºC de manhã porque estamos em Fevereiro e é Inverno, o que faz com que moçoilas descascadas, por mais bem-parecidas que sejam, se tornem patéticas.
Não é minha intenção desencoraja-las, apenas quero transmitir o que a minha lógica me indica.
Outra coisa que me desagrada é festejar-mos o Carnaval como se fossem marchas populares, em que todos levam a mesma fatiota (ou bikini) como se uma parada se tratasse (à brasileira). O nosso Carnaval não era assim antigamente, era cada um por si ou em pequenos grupos, apelando à sua criatividade mais íntima e ao mais fundo do velho baú lá de casa à procura do “fato” mais cómico-saloio que conseguisse. Assim era a nossa tradição e a este acho uma certa piada.
O meu pai era um desse grandes criativos, até à minha avó ter falecido nesta época do ano, ganhando quase sempre um honroso prémio no baile de Carnaval de São Jorge. De Índio (quase nú) a ardina tudo lhe servia para sair vencedor, pois encarnava de tal forma a personagem, preparada quase sempre à última hora, que era difícil não votarem nele.
Eu não sou muito dado a Carnavais e as poucas vezes que participei em idade adulta foi por me sentir mesmo muito motivado para tal e alinhando sempre na rambóia, com outros companheiros de farra.
A última vez que participei e ganhei também eu gloriosa competição do “Baile de Carnaval de São Jorge” foi há uns 7 ou 8 anos, conjuntamente com um primo meu. Eu ia mascarado de empresário da borda-da-estrada, vulgo “chulo” (ver foto) e ele de minha colaboradora, vulgo “prostituta”. Nessa noite encarnámos de tal maneira a personagem que depois da vitória ainda fomos “obrigados” pela organização a (tentar) dançar a valsa.

17 de fevereiro de 2012

Dia-D, o Exame


Já há alguns dias que sabia que hoje era o dia em que tinha, finalmente, o exame de mota. Desde a penúltima aula que até andava confiante, tinha-me corrido bem, já me sentia um bocadito mais à vontade com a “burra” e os 8’s até me tinham saído bem nesse dia.
Esta semana tinha uma aula marcada para quarta-feira, a última antes do dia-D. Comecei confiante, sem falhas, sem erros de distracção, o frio até nem era muito o que até ajuda a controlar melhor a embraiagem, por conseguir sentir os dedos, até que o instrutor me manda fazer uns 8’s numa subida daquelas mesmo à séria, situação completamente nova para mim. Resultado, todas as tentativas foram frustradas.
Continuei a aula, agora já um bocado mais enervado mas com o discernimento suficiente para me continuar a portar bem. Nova paragem, nova subida íngreme e à segunda meia-volta a mota começa a embalar ao aproximar-se do passeio, ainda perpendicular, travei de mais e o resultado foi mota ao chão! Felizmente que consegui safar-me de a acompanhar e não ficar debaixo dela. O primeiro ensinamento das aulas tinha sido “se vires que a mota vai a cair, larga-a para não caíres também”. Depois veio a tentativa de levantar aqueles quase 200 kg, que tinham o acréscimo de dificuldade de estar num plano inclinado. Curiosamente, nos muitos fóruns que consultei, aprendi a técnica, que consiste em colocar o descanso virar costas à mota, uma mão no guiador e outra na pega traseira e com um ou dois passos para trás levantamo-nos conjuntamente com ela.
Obviamente que a partir daí a moral caiu a pique. De lá até hoje andei mesmo muito pouco confiante no sucesso.
Hoje, quando me sentei ao guiador estava plenamente convencido de que as minhas probabilidades não eram muitas, no entanto o pior que podia acontecer era continuar tudo na mesma, isso e ter de gastar mais uns trocos!
Depois de um percurso que até já me era algo familiar e de ter conseguido fazer o 8 “sem espinhas” foi-me dado um papel com um carimbo e uma licença provisória até que chegue a minha nova carta, agora habilitando-me para ser um perigo na estrada também noutra categoria! Uff passei!!!

14 de fevereiro de 2012

14 de Fevereiro

Para mim o dia 14 de Fevereiro, mais conhecido por ser o "Dia dos namorados", é mais ou menos como o Natal, ou seja deveria ser celebrado todos os dias e não apenas uma vez por ano, trocando os casalinhos mutuamente prendas sob esse pretexto. Quero com isto dizer que não ligo minimamente a este dia por o considerar apenas um mero produto comercial. 
Como tal, prefiro deixar aqui uma "Nota" para um acontecimento bem mais sério  cuja celebração coincide com o "Dia dos namorados". Os meus sinceros votos de um feliz "Dia da disfunção eréctil".

13 de fevereiro de 2012

Lentes de contacto - parte II


Após incontáveis tentativas e longos minutos de olhos bem abertos a colocar infrutiferamente as lentes de contacto, ontem o “milagre” aconteceu! Já os olhos estavam vermelhos do esforço e da raiva contra as pequenas semi-esferas, quando num golpe de indicador aquilo aderiu finalmente na posição correcta sem encaracolamentos.
Fiquei tão estupefacto que saí a correr para perguntar à minha amada se a lente estava bem colocada e sem falhas, não tivesse ela caído no lavatório e seguido esgoto abaixo (fazendo da minha admiração um acto de parvoíce). E estava mesmo, a lente estava no sítio!
Voltei novamente à “casa de partida” para nova tarefa, agora no olho esquerdo, e qual não é o meu espanto que em menos de dois minutos, novo sucesso! Eh pá, já me sentia com um grau de eficácia superior ao do Cardozo! Nova corrida para a mesma pergunta e a mesma confirmação! Isto estava mesmo a correr de feição.
A sensação de andar com umas películas agarradas aos olhos afinal não me pareceu tão desconfortável quanto esperava inicialmente. A capacidade de visão era aparentemente a mesma, no entanto sentia uma pequena impressão por debaixo da pálpebra inferior sempre que pestanejava. 
Depois comecei a fazer as minhas experiências, a pestanejar muito rapidamente para ver qual era o efeito e o resultado era ter a sensação que a lente levantava. Esfreguei os olhos e obviamente a lente deslocou-se, experimentei também a mexer rapidamente os olhos e ao fim de um quarto de hora de tanta experiência fiquei com náuseas e tive de tirar os ditos acessórios. 

10 de fevereiro de 2012

Fotojornalistas


Foto vencedora do World Press Photo 2011 por Samuel Aranda

Não é novidade que gosto bastante de fotografia, já o referi várias vezes aqui no blog, mas ultimamente tenho aumentado o meu interesse pelo trabalho dos fotógrafos de guerra, sendo precisamente estes os que mais admiro no desempenho desse trabalho. Não quero com isto dizer que gostava de me tornar num deles, bem pelo contrário, simplesmente acho que têm uma coragem completamente fora do comum.
Há algum tempo vi um filme de seu nome “The bang-bang club” que retracta a história de quatro fotógrafos de guerra, um dos quais o português João Silva, durante o período mais conturbado dos conflitos na África do Sul no final do Apartheid, altura em que foi libertado Nelson Mandela.
No filme baseado na história verídica desses quatro fotógrafos é possível ter a percepção do quão difícil é ganhar a vida desta forma, vivendo permanentemente no fio da navalha, tendo simultaneamente a frieza, o discernimento para disparar a máquina e captar o sofrimento alheio sem interferir. O seu trabalho é que nos permite conhecer as guerras, a fome, a morte, a injustiça quando nos sentamos no sofá a ler o jornal.
Hoje ao conhecer o vencedor do World Press Photo de 2011 atribuído ao fotógrafo Espanhol Samuel Aranda de 33 anos, com uma fotografia da Primavera Árabe, li alguns comentários menos simpáticos para estes profissionais e para o tipo de trabalho que realizam, sendo acusados de apenas difundir a desgraça, não agirem positivamente e aproveitarem-se da desgraça de terceiros. A minha opinião é diferente, essencialmente por um motivo, os fotógrafos geram os veículos de transmissão daquelas circunstâncias, as fotografias. Não faz parte do seu papel intrometer-se. Muitas vezes as suas fotografias tornam-se no mote para essas vítimas receberem ajudas externas.
Compreendo contudo, que por vezes a fronteira entre o respeito pelas vítimas e a necessidade de transmissão da informação seja muito ténue e se torne complicada a sua distinção, no entanto, acho que esse limite e triagem devem ser definidos por quem vê.
Em 1993, Kevin Carter, fotojornalista também ele pertencente ao bang bang club, tirou uma foto que chocou o mundo e que foi premiada com o prémio Pulitzer no ano seguinte. Nessa fotografia, uma criança sudanesa aparecia prostrada, enquanto ao fundo um abutre a vigiava. Kevin Carter foi duramente criticado por não ter agido em defesa da menina. Em sua defesa argumentou que a menina não havia falecido nessa ocasião e que se encontrava junto a um acampamento da cruz vermelha, não estando abandonada à sua sorte. Kevin Carter suicidou-se pouco tempo depois, a menina faleceu mais tarde vítima de uma infecção e o Sudão recebeu alguns milhões de dólares em donativos graças a essa foto que ajudaram muitas outras crianças a livrar-se do mesmo destino. Se o comportamento de Kevin Carter foi o mais adequado e eticamente correcto, não sei, mas quero acreditar que sim.
Foto vencedora do Prémio Pulitzer de 1994 por Kevin Carter

9 de fevereiro de 2012

Um gajo com azar


Há pessoas a quem a sorte não bate à porta e por melhor que seja o seu comportamento, acabam sempre por ser traídos pelo destino, foi o que aconteceu a um cidadão russo na passada terça-feira. O pacato senhor seguia de carro quando um maldito semáforo decidiu passar a vermelho na altura em que ele o atravessava, azar dos azares, a GNR de Faro andava por ali.
O descontraído Russo, descontraído porque é difícil alguém não estar neste estado quando “carrega” 1,72 g/L de álcool no sangue, foi mandado parar e como se não bastassem estes dois azares, ainda lhe apanharam os 400g de calmante de recurso, haxixe.
O ditado é bem velho, “uma desgraça nunca vem só” e quando lhe pediram os documentos, os implicativos guardas não obtiveram a resposta aguardada, visto o cidadão russo não ter carta de condução, para além disso também não teria documentos do SEF, visto estar em situação ilegal. Estava ilegal porque cá não se facilita a vida a ninguém, há algum tempo tinha sido preso e não o tinham auxiliado a integrar-se na nossa comunidade, os mauzões dos juízes deportaram-no para o país de origem. Como pessoa persistente não baixou os braços e decidiu “arriscar-se” novamente na aventura Lusa. Teve azar! Com um infortúnio tão grande e tamanha implicância da autoridade, só não terá sido multado por chapa de matrícula suja porque o carro não era seu, era roubado.
Resumindo, o azar do Russo foi passar um vermelho num carro roubado, não ter carta para o conduzir alcoolizado, com 400 g de haxixe no bolso e acreditar que podia regressa cá ao burgo e manter-se ilegal. Felizmente que conduzia com o cinto de segurança!

7 de fevereiro de 2012

Abençoados


No passado sábado realizou-se na Sé de Leiria a bênção dos bebés. Não sendo a pequenita baptizada nem estando nos planos que tal aconteça brevemente, por motivos que não vale a pena estar agora aqui a dissecar, decidimos, eu e a mãe, levá-la a esta cerimónia, até para ver se a bênção lhe produz um efeito calmante para as noites mal dormidas (esta era uma “graçola” inevitável).
Nunca tinha assistido a uma cerimónia do género e desconhecia inclusivamente a sua existência, mas em conversa com um padre da paróquia, fiquei a saber que já não é uma prática recente contando com meia-dúzia de anos de existência. Todos os anos por esta altura são colocados alguns avisos nos infantários para convidar os pais a levar os rebentos a esta celebração.
A cerimónia foi curtinha por o público mais pequeno ser impaciente e quase exclusiva para os pais e um ou outro familiar, caso dos avós, que quisesse participar e tirar todas as fotografias que conseguisse. O meu receio inicial prendia-se exactamente com esta questão da gestão do tempo, pois quando se trata de bebés não vale a pena tentar convencê-los de que o “Senhor Prior está quase quase a acabar o sermão!”.
Houve esse bom senso, quer do sacerdote, quer do coro e após sinal da cruz a abençoar aquela nova geração, estávamos todos prontos a participar num pequeno e simpático lanche de confraternização para todos os presentes. Todos excepto os petizes, pois roer um rissol ainda não faz parte das suas actividades gastronómicas.

6 de fevereiro de 2012

Maritime Nocturno


Maritime Nocturno

“Escrever sobre arte é como dançar sobre arquitectura”, esta é uma opinião da qual eu não discordo mas também não concordo em absoluto, senão nem faria sentido publicar esta crónica. A minha concordância com a ideia vai no sentido de achar que não é necessariamente imperativo perceber de arte para se gostar ou não e ter a legitimidade para manifestar opinião.
Foi esta semana leiloado um quadro cujo título é “Maritime nocturno” pintado em 1913 por um jovem austríaco de 23 anos cuja veia artística lhe desconhecia. Esse indivíduo não seguiu, infelizmente, essa profissão ou pelo menos não exclusivamente, como o mundo desejaria. O autor da obra, agora vendida por 32 000€, dispensa apresentações por ser nem mais nem menos que Adolf Hitler.
Não sendo um dos meus quadros preferidos, até acabo por considerar uma obra do meu agrado. Apenas vi a referida pintura após saber o seu autor e no entanto, até para mim próprio intimamente, foi algo difícil conseguir apreciá-la dissociando-a do autor. Ao olhar para a pintura, como que pairava no ar aquele fantasma da mão do tirano. A certa altura parei um pouco para pensar e concluir que há também muitos outros artistas, como é o caso de músicos, com quem não simpatizo minimamente (sendo obviamente incomparável o grau de antipatia) e no entanto gosto da sua música.
Li alguns comentários em relação ao quadro, a maioria deles dizendo que deveria ser destruído, pois bem, eu discordo completamente, pois a obra de arte deve ser apreciada por si, independentemente do autor.

3 de fevereiro de 2012

Manhã de briol


O termómetro do meu carro marcava -4ºC às 7h45, hora a que pretendia sair de casa em direcção à escola de condução. É verdade, nada melhor que dar uma voltinha de mota às 8h da matina com um frio do raio para acordar.
Como tento ser um “homem  prevenido”, ontem coloquei umas quantas folhas de jornal no pára-brisas presas com as escovas, mas como é óbvio o vento tratou de virar algumas deixando partes do vidro a descoberto, o que permitiu a formação de “ilhas de gelo”. Mais uma vez, prevenido como sou, tenho uma garrafa de água no carro para solucionar estes contratempos e decidi actuar em conformidade para me por na alheta o quanto antes.
Distraído como sou, não me lembrei que a temperatura do vidro seria igual à do ar, ou muito próxima, o que fez com que ao despejar a água as ilhas se aglomerassem num único bloco que era… do tamanho do vidro!
Depois de 10 minutos a raspar inconsequentemente, manter as escovas a trabalhar enquanto descarregava os jactos de água e ligar o aquecimento interior do carro, consegui finalmente fazer-me ao caminho a espreitar por alguns buracos abertos entre aquela película de gelo.
Peguei na mota acompanhado pelo dito briol e embora levasse luvas, 500 metros depois já não sentia os dedos. A certa altura já estavam dormentes e a doer de tão frios, o pulso já tinha alguma dificuldade em se mover, o que ocasionalmente levava a umas acelerações a fundo quando carregava na embraiagem para meter as mudanças.
Quando o instrutor mandou trocar de condutor e acabou com o meu sofrimento, revelou que o termómetro ainda não tinha subido dos -2ºC. Quando regressei ao carro para me encaminhar para o trabalho, o vidro continuava com uma camadona de gelo, que me valeu mais 5 minutos de atraso.

1 de fevereiro de 2012

Condenado


http://diariodorioclaro.com.br

O tribunal dos juízos criminais do Porto condenou ontem um sem-abrigo ao pagamento de 250€ pela tentativa de roubo de uma embalagem de polvo e de um champô. O roubo não foi consumado pois o ladrão foi apanhado e obrigado a deixar os produtos no hipermercado, que não abdicou da formalização da queixa, obrigando o estado a nomear um advogado de defesa oficioso pelos óbvios motivos.
O juiz decidiu aplicar a pena por não ter sido provado que os bens fossem “para satisfazer necessidades imediatas”, ou seja, do que compreendo o polvo teria de ser comido na hora e o champô utilizado no próprio dia. Não sei se o culpado terá meios ou forma de pagar a multa, certo é que seria muito mais vantajoso para si não a pagar e esperar que a polícia o fosse buscar para cumprir pena de prisão, ao menos sempre assegurava alojamento, alimentação e roupa lavada gratuitamente e ficava com a dívida saldada.
Considero que um roubo é um roubo independentemente dos valores ou bens em causa, no entanto em situações de roubo de alimentos por clara necessidade, acho que deveria haver alguma complacência, ainda para mais, não tendo o acto obtido resultados práticos. Em minha opinião, seria mais ajustada a aplicação de uma pena diferente, como a realização de trabalho comunitário.
Numa altura em que bandalhos engravatados roubam milhões, falsificam, defraudam, corrompem e saem impunes ou com penas suspensas, e isto quando não pedem indemnizações em defesa do seu “bom-nome”, é no mínimo insultuoso e caricato que um “pobre diabo” seja condenado por querer saciar a fome.