Se o meu avô paterno,
Adriano Mota, fosse vivo faria hoje 97 anos, mas infelizmente já partiu, tal
com os meus restantes avós. Prefiro dizer que “partiram” não apenas por ser crente Deus, mas por acreditar que a morte os transportou para uma condição diferente onde se continuam
a perpetuar, talvez também pela necessidade de os manter vivos na minha
memória. Transmite-me algum conforto pensar que não desapareceram para sempre,
sendo ou não meus “anjos-da-guarda”.
O meu avô Adriano era
um homem alto, de feições bem vincadas, usava boina, raramente abdicava do cigarro ao canto da boca, possuindo uma aparência rígida que o caracterizava
desde novo. Com o Mota ninguém brincava, e se o tentassem, aguentavam-se à
bronca. As histórias que fui ouvindo sobre ele relatavam sempre o seu carácter firme
e corajoso. Contou-me um dia, que andava há mais de cinquenta anos, tendo já
oitenta, à procura de um cobarde que um certo dia numa zaragata o pontapeou à
falsa-fé e fugiu. Se o tivesse encontrado tinha, seguramente, ajustado contas,
pois não era homem de lérias.
O Adriano Mota que eu
conheci era um homem simpático, que falava comigo quase sempre de sorriso no rosto na sua
voz ternurenta de avô. Quando ele jantava lá em casa por volta das 18h,
porque a partir daí já ficava para muito tarde, eu pegava no carro e ia, satisfeitíssimo,
levá-lo a casa. Antes de sair do carro, dava-se dois beijos de despedida e
dizia sempre “Obrigado, que Deus te dê uma mulher boa!”. Era impossível não me
rir ao receber aquele agradecimento, de resto o mais original que alguma vez ouvi.
Inúmeras vezes pela
semelhança física e por alguns traços da personalidade me compararam ao meu avô
Adriano, e isso sempre me encheu de orgulho, a par de ser o seu único neto a
herdar o apelido Mota.
Hoje, o meu avô
visitou-me constantemente através das minhas memórias de si, aliás felizmente
os meus avós são presença habitual na minha mente pelas marcas boas que me
deixaram. Não tenho dúvidas de que em muitas coisas sou um privilegiado, uma
delas é indiscutível, a minha ascendência mui nobre nos valores e nos afectos.
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