A minha primeira experiência profissional começou em 2005, três meses depois de finalizar a licenciatura e acabou passado ano e meio quando depois de acordar as condições contratuais, após um estágio profissional, me apresentaram dois contratos com valores diferentes dos que tinha acordado e que obviamente não assinei, por uma questão de honra aos princípios que me foram ensinados pelos meus pais. À sexta ou sétima conversa que tive com o administrador e depois de uma série de tentativas para fugir ao acordo verbal que tinha comigo, perdi definitivamente a paciência e disse para me fazerem as contas.
Seguiram-se 5 meses de agonia, sem ordenado e sem subsídio de desemprego e em Março de 2007 uma nova oportunidade surgiu numa empresa das maiores a nível nacional na sua área de negócio.
A oportunidade dificilmente seria melhor, fui contratado para trabalhar na minha área de formação, Engenharia da energia e ambiente, numa empresa sólida, com um grupo de trabalho competente e com a vantagem de ser próxima da casa dos meus pais, o que permitia um dos maiores privilégios que pode haver, almoçar todos os dias a comida feita pela mamã.
Após dois anos na casa, o Presidente do Conselho de Administração faleceu e no mês seguinte os ordenados passaram a ser pagos por duas vezes, sem que houvessem atrasos. Da parte da administração não foram feitos esclarecimentos, mesmo assim, os colaboradores continuaram a colaborar com a mesma dedicação. Há cerca de uma ano os ordenados começaram a ser pagos por três vezes, sem atrasos e sem explicações por quem deveria dar a cara. Os funcionários continuaram a colaborar.
Em Setembro último, surgiu o primeiro atraso, mas só para alguns, lote esse onde eu me incluía. De lá até agora os atrasos continuaram, os pagamentos dos ordenados começaram a ser feitos a uns e a outros não, havendo atrasos para todos em proporções diferentes. Para além dessa situação, em 6 anos a minha categoria profissional esteve desactualizada nos últimos 5 anos, não sendo portanto respeitado o Contrato Colectivo de Trabalho para o sector. Quando solicitei que me fosse actualizada a categoria e respectivo vencimento, não houve uma resposta, foram-me dados prazos para essa resposta que não chegou. Hoje, data em que faz um mês desde a conversa com o administrador, decidi que ele deveria receber uma carta que para além de reclamar os retroactivos, três salários em atraso, subsídio de Natal, parte do subsídio de férias do ano anterior, punha termo ao contrato com justa causa.
Infelizmente vi-me forçado a deixar um trabalho de que gostava, numa empresa que me marcou muito pela positiva, independentemente das circunstâncias que levaram a este desfecho.
Fiz parte de um grupo que para além de muito bons profissionais, tinha bons companheiros e que infelizmente, por incompetência da administração, não podem ambicionar a colocar uma empresa com potencial no local que deveria ser seu.
O dia de hoje foi um turbilhão de emoções, custou-me muito despedir-me de pessoas que me acompanharam diariamente nestes seis anos, a ponto de não conseguir conter as lágrimas. Desejo-lhes a todos sem excepção muitas felicidades.
Agora segue uma nova etapa, o desemprego.
Essa situação é, infelizmente, tão frequente, que me sinto quase como os médicos de um banco de hospital perante quem chega gravemente ferido: “mais um!”
ResponderEliminarSem sentimentos, apenas tecnicamente interessados, que os ossos partidos, os tecidos rasgados, a dor abundante, são o pão-nosso-de-cada-dia.
A única diferença está em que os casos hospitalares são mais ou menos inevitáveis, fora algum descuido. E em muitos deles, fora a divina, são de difícil responsabilização.
Já o que aqui se conta, no meio de tantos e tantos outros, tem um ou mais rostos responsáveis que, as mais das vezes, conseguem passar incólumes através daquilo que vão provocando a terceiros.
Por vezes o apelo à ignorância ajuda. Senão a resolver de uma forma prática a questão, a aliviar a bílis e a raiva.