Há perto de 30 anos o
mundo quase desabou, pelo menos, o meu mundo. Eu já desconfiava que as coisas
não eram assim tão simples como me diziam e que a dúvida que me causava uma das
práticas natalícias não era por acaso. A certa altura os meus pais confirmaram
que de facto o Pai Natal não existia e que eu tinha razão, com aquela barriga
imponente era impossível ele passar na nossa chaminé. Senti-me como se tivesse
levado um murro no estômago.
Com o tempo percebi
que isso afinal não era assim tão mau, pois não iria precisar de escrever
cartas para pedir presentes, tinha direito a argumentar e a defender os meus
motivos para merecer o tal carrinho ou o tal jogo e não precisava de esperar
pela meia-noite para abrir os embrulhos que me estavam reservados. Mais, deixou
de haver a possibilidade de encontrar um velhinho entalado ou a esgatanhar
chaminé acima (tudo isto mantendo a fatiota vermelha imaculada) antes de
continuar a sua distribuição de presentes pelos outros meninos que também tinham
chaminés em casa, sim porque na minha opinião, os que não possuíam lareira não
tinham forma de ser recompensados pelo bom comportamento ao longo do ano.
Não cheguei a ficar
com nenhum trauma, cresci e transformei-me num adulto minimamente normal (seja
lá isso o que for), mas ontem voltei a levar novo murro no estômago. Pensava eu
que o nascimento de Jesus (O Cristo, não o Jorge) era uma situação
perfeitamente esclarecida, senão quando num noticiário da hora de almoço, volto
a sentir o mundo fugir-me debaixo dos pés ao tomar conhecimento que o Papa
Bento XVI revelou no seu último livro que as duas figuras menos contestadas do
Presépio, afinal não faziam parte dele. Pois é, o burro e a vaca não estavam
junto à manjedoura onde o menino foi deitado e não terá sido o seu bafo a
mantê-lo quente.
Não percebo o motivo
de só agora, mais de 2000 anos depois, estes dois bichos serem expulsos do
presépio, onde em muitas das recriações do momento, à venda em qualquer loja,
aparecem com ar simpático e sorridente. Quem nunca viu um burro e uma vaca de
loiça de dentuça à mostra junto ao menino Jesus?
Não vejo sequer que
risco poderá trazer para a fé católica a presença daqueles dois inocentes
animais, e qual a necessidade que o Papa terá em preocupar-se com estas questões
laterais quando o mundo e a própria fé andam tão abalados. Enfim, ele lá terá
as suas prioridades!
Fico também a
aguardar a reacção das associações de defesa dos animais e os resultados dos
possíveis inquéritos, com o intuito de aferir a real veracidade da revelação e
se houve ou não o recurso à violência física e/ou psicológica.
Deixo também aqui um
último pedido, por favor não acabem é com o bolo-rei!
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